Os autores iniciam o artigo enfatizando a importância atual do uso de medicamentos para o tratamento do alcoolismo. "Durante vários anos, as intervenções farmacológicas (IF) ficaram restritas ao tratamento da Síndrome de Abstinência do Álcool (SAA) e ao uso de drogas aversivas. Nos últimos 10 anos, a naltrexona e o acamprosato foram propostos para o tratamento da Síndrome de Dependência do Álcool como importantes intervenções adjuvantes ao tratamento psicossocial".
Os autores elaboraram um quadro resumo com as principais informações sobre os três medicamentos abordados:
Dissulfiram |
Naltrexona |
Acomprosato |
|
Definição |
Sensibilizante ao álcool. |
Antagonista de opióides. |
Co-agonista de receptores de glutamato (NMDA). |
Mecanismo de ação |
Inibidor da enzima aldeído-desidrogenase. |
Bloqueio dos receptores de opióides. |
Bloqueio da excitabillidade glutamatérgica. |
Posologia |
Dose inicial: 500 mg/dia durante 14 dias. Dose manutenção: 125 a 250 mg/dia. |
Dose inicial: 25 mg/dia durante dois dias. Dose mantenção: 50 mg/dia. |
Dose para pacientes com mais de 60 Kg: 1998 mg/dia. Dose para pacientes com menos de 60 Kg: 999 mg/dia. |
Contra-indicações |
Cirrose, insuficiência hepática, epilepsia, gravidez. |
Cirrose, insuficiência hepática, dependência de opióides e gravidez. |
Insuficiência hepática, Child Pugh C e gravidez. |
Efeitos adversos |
Rush cutâneo, disfunção sexual, acne, fadiga, gosto metálico na boca. |
Náusea, vômitos, cefaléia, perda de peso. |
Cefaléia, diarréia, rush cutâneo, náuseas. |
Recomendações |
Monitorização da função hepática. Introdução apenas após um período de abstinência de 24 a 48 horas. Evitar fontes de álcool (inclusive de uso tópico) |
Monitorização da função hepática. |
Insistir na tomada correta das medicações. Monitorização das funções hepáticas é recomendada. |
Existem ainda, segundo os autores, dois outros medicamentos, em fase de aprovação, que têm demonstrado potencial de uso para o tratamento do alcoolismo: topiramato e ondansetron.
O topiramato reduz a propriedade de reforço positivo associado ao uso de álcool. O ondansetron tem sido proposto para pacientes dependentes de início precoce com bons resultados em termos da redução do consumo.
As conclusões a que chegaram os autores são que o acamprosato e naltrexona são "importantes recursos farmacológicos no tratamento da síndrome de dependência de álcool" e que os outros três medicamentos apresentam resultados promissores. Afirmam também que o "tratamento farmacológico das dependências químicas como um todo não deve ser a estratégia terapêutica principal, visto que inúmeros outros fatores, além dos biológicos, perfazem estas doenças, mas deve ser pensado como uma importante ferramenta médica na melhor abordagem dos pacientes".