Os indivíduos que consomem maconha e álcool podem adotar diversos padrões de consumo. O consumo simultâneo refere-se ao uso de ambas as substâncias em um intervalo de tempo muito curto, permitindo que os efeitos de ambas se sobreponham e potencializam. A utilização conjunta, por outro lado, refere-se ao consumo de maconha e álcool dentro de um mesmo período, como por exemplo, no decorrer de um mês, mas não necessariamente ao mesmo tempo.1
Os efeitos relacionados à sobreposição do uso se caracterizam pelo fato do álcool aumentar a absorção do principal componente psicoativo da maconha, o delta-9-tetrahidrocanabionol (THC). Além disso, a maconha também é capaz de potencializar os efeitos positivos (ou seja, prazerosos) do álcool, aumentar a intoxicação subjetiva e elevar os níveis de álcool no sangue em diversas doses.2 Essa sinergia de efeitos, provavelmente, está relacionada à popularidade dessa combinação de substâncias psicoativas, uma lícita (álcool) e outra ilícita (maconha) no Brasil.
Evidências mostram que há uma tendência de uso mais pesado e frequente quando as substâncias são usadas de forma associada (ou em combinação) em comparação ao uso de cada substância separadamente.3 Como consequências negativas do uso conjunto ocorrem evasão escolar, pior desempenho acadêmico, uso de outras drogas ilícitas e vários comportamentos de risco, como direção sob efeito de substâncias.4,5 Além disso, maiores taxas de problemas mentais e sintomas de dependência também são observadas.3
Em relação ao trânsito, é importante enfatizar que a lei nº 9.503, popularmente conhecida como Lei Seca, tem como objetivo proibir que pessoas dirijam sob influência de álcool ou outra substância psicoativa, incluindo a maconha. Conforme investigado por Duckworth e Lee (2019), indivíduos que fazem uso simultâneo de maconha e álcool têm uma probabilidade duas vezes maior de conduzir veículo sob efeito dessas substâncias, quando comparados com aqueles que consumem apenas álcool.5 Portanto, programas voltados à educação de motoristas sobre os riscos associados à direção sob efeito de substâncias psicoativas são prioritários.
Gonçalves e colaboradores (2023) conduziram um estudo recente para avaliar o impacto da legalização do uso recreacional de maconha nos Estados Unidos e os efeitos colaterais sobre o beber pesado episódico, binge drinking. O resultado encontrado relacionado à implementação da legalização do uso recreacional de maconha foi um aumento no consumo excessivo de álcool no último mês em adultos com 31 anos ou mais e uma redução no consumo excessivo de álcool no último mês naqueles com menos de 21 anos.6 Essa avaliação contribui para o debate sobre os efeitos da legalização do uso recreacional de maconha e possíveis impactos relacionados ao consumo concomitante de álcool.
Por fim, a associação dessas substâncias, tanto a utilização em conjunto quanto a simultânea, aumenta significativamente os riscos para saúde e bem-estar dos indivíduos como já publicado em estudos anteriores. No entanto, ainda persistente uma necessidade de investigações mais profundas para compreender integralmente a extensão e a magnitude destes prejuízos à população.
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