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Álcool e direção: como o consumo de álcool afeta os motociclistas?

27 Setembro 2023

Entre motociclistas brasileiros, um estudo apontou que apenas 10% das internações por acidentes de trânsito evoluíam para a alta do paciente sem nenhum prejuízo ou incapacidade. Vejas mais sobre os impactos do consumo de álcool neste texto!

Entre os dias 18 e 25 de setembro realiza-se, anualmente, a semana nacional do trânsito, com o objetivo de conscientizar a sociedade sobre a necessidade de um trânsito mais seguro. O consumo de álcool é um importante fator de risco para acidentes de trânsito (ATs). É estimado que 1,3 milhão de mortes ocorram anualmente devido aos ATs (1,2). Para o Brasil, a OMS aponta que a estimativa da contribuição do álcool para óbitos relacionados aos ATs é de 36,7% e 23% para pessoas do sexo masculino e feminino, respectivamente (3). Embora não existam estatísticas precisas sobre o número de mortes por ATs atribuíveis ao álcool no Brasil, através destas frações atribuíveis ao álcool, o CISA estima que, em 2021, 10.877 óbitos poderiam ter sido evitados se o álcool não tivesse sido consumido. Uma parcela importante destes óbitos ocorre com motociclistas, que, mesmo que não tenham bebido, estão sob maior risco de acidentes fatais por conta da menor proteção contra lesões oferecida por este tipo de veículo. 

Visando contribuir para aprofundar o entendimento sobre essas questões, o CISA fez uma análise dos ATs atribuíveis ao álcool de 2010 em diante, discriminada pela condição da pessoa envolvida no acidente de trânsito, a partir de quatro categorias: pedestre, ciclista, motociclista e ocupante de automóvel, visando contemplar as principais categorias envolvidas em acidentes de trânsito urbanos. 

Alguns dados iniciais podem ser visualizados abaixo. Para obter o relatório completo, baixe nosso “Panorama 2023: Álcool e a Saúde dos Brasileiros”.



 

Figura 1. Internações de motociclistas, segmentadas por faixa etária, ATs atribuíveis ao álcool, de 2010 a 2021.



O CISA observou, através de análise estatística, um aumento anual médio de 4,41% na taxa de internações para a categoria dos motociclistas. A faixa etária de 18 a 34 anos é a mais afetada por este agravo, tendo apresentado mais de 40 internações por 100 mil habitantes em 2021. 

 

Figura 2. Óbitos de motociclistas, segmentados por faixa etária, por ATs atribuíveis ao álcool, de 2010 a 2021. A faixa etária de 18 a 34 anos apresenta maiores taxas de óbitos, mas é a que apresentam maiores reduções nesta taxa.

Já os óbitos por ATs atribuíveis ao álcool entre motociclistas apresentam estabilidade ao longo dos anos analisados. Para a faixa de 18 a 34 anos, observa-se uma tendência de redução, sem significância estatística. Esta faixa etária apresentou maior taxa de óbitos em 2012, com 4,2 óbitos por 100 mil habitantes, e menor taxa em 2021, com 3,2 óbitos por 100 mil habitantes.  

Estimativas do Ministério da Saúde também apontam que as internações de motociclistas aumentaram 55% em dez anos (Agência Brasil, 2023). Há indicativos na literatura científica mostrando que essa categoria é a mais afetada por esse agravo (Rios et al., 2019), mas ainda faltam estudos examinando os motivos dos aumentos de internações e estabilidade de óbitos nesta categoria, observados de 2010 a 2021. Nesse sentido, um estudo realizado por Souza e colaboradores (2022) indicou a mesma estabilidade na taxa de óbitos por acidentes de trânsito observada na análise do CISA para o período de 2015 a 2020. . 

Uma análise de 2023, com dados de 2008 a 2018, aponta que, entre motociclistas brasileiros, apenas 10% das internações por acidentes de trânsito evoluíam para a alta do paciente sem nenhum prejuízo ou incapacidade, ao passo que 82% resultavam em algum prejuízo ou incapacidade temporária, 4% resultavam em um prejuízo ou incapacidade permanente e 4% resultavam em óbito (7). Referente a esta parcela de 82% para lesões temporárias, é necessário considerar também o impacto econômico e social dessas ocorrências, dado que muitos motociclistas utilizam a própria moto como instrumento de trabalho e não possuem vínculo empregatício formalizado que garanta algum tipo de assistência em caso de afastamento, situação que se agrava com a crescente demanda por “motoboys”, principalmente em ambientes urbanos. Além da exposição e dos maiores riscos de fraturas e acidentes graves característicos do tipo de veículo, um estudo recente aponta que a condição precária de trabalho e as demandas de “velocidade de entrega” podem ser fatores estressores e de extremo risco para esta população (8). Mais estudos e melhores condições de trabalho para esses trabalhadores são necessários para evitar que eles continuem sendo tão impactados pelos acidentes de trânsito . 

 

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Additional Info

  • Referências:

    1. OMS. GLOBAL STATUS REPORT ON ROAD SAFETY 2018 SUMMARY. World Health Organization. 2018;(1):20.
    2. Haghpanahan H, Lewsey J, Mackay DF, McIntosh E, Pell J, Jones A, et al. An evaluation of the effects of lowering blood alcohol concentration limits for drivers on the rates of road traffic accidents and alcohol consumption: a natural experiment. The Lancet. 2019 Jan 26;393(10169):321–9.
    3. OMS. Global status report on alcohol and health 2018. Geneva: World Health Organization; 2018. Licence: CC BY-NC-SA 3.0 IGO. Poznyak V, Rekve D, editors. 2018. 478 p.
    4. Agência Brasil. Internações de motociclistas aumentaram 55% em 10 anos | Agência Brasil [Internet]. [cited 2023 May 1]. Available from: https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2023-05/internacoes-de-motociclistas-aumentaram-55-em-10-anos
    5. Rios PAA, Mota ELA, Ferreira LN, Cardoso JP, Santos GJ, Rodrigues TB. Acidentes de trânsito com condutores de veículos: incidência e diferenciais entre motociclistas e motoristas em estudo de base populacional. Revista Brasileira de Epidemiologia [Internet]. 2019 Dec 5 [cited 2023 Jun 30];22:e190054. Available from: https://www.scielo.br/j/rbepid/a/GPh8zYny4qjzHdmdSbf3MfG/
    6. Souza RC de, Abreu LC de, Bebiano BC, Leitão FNC, Rodrigues LMR. Tendência da taxa de mortalidade por acidentes de trânsito entre motociclistas no estado de São Paulo, Brasil, de 2015 a 2020. Revista Brasileira de Epidemiologia [Internet]. 2022 Dec 5 [cited 2023 Jun 30];25:e220037. Available from: https://www.scielo.br/j/rbepid/a/VPJg4GLgXFNSPvKT9zsGHxv/?lang=pt
    7. Santos Souza S, Santos MF, Maikon G, Souza S. Disability in motorcyclists involved in traffic accident. Research, Society and Development [Internet]. 2023 Apr 4 [cited 2023 Jun 30];12(4):e12112441047–e12112441047. Available from: https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/41047
    8. da Silva RB. Motoboys in São Paulo, Brazil: Precarious work, conflicts and fatal traffic accidents by motorcycle. Transp Res Interdiscip Perspect. 2020 Nov 1;8:100261.

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