Um estudo de 2022 fez uma revisão sistemática de aplicativos para celular que focam em intervenções para reduzir o consumo de álcool1. Mais precisamente, esta análise, liderada por uma pesquisadora do King’s College London, buscou averiguar os efeitos das notificações de celular no comportamento dos consumidores de álcool. Ao todo, foram encontradas 14 pesquisas sobre aplicativos e consumo de álcool, e o papel das notificações neste contexto foi inconclusivo. Uma delas7 apontou que, de 19 aplicativos criados para redução do consumo de álcool, apenas oito estavam disponíveis para o público e, destes oito, apenas quatro possuíam alguma evidência de auxílio na redução de consumo.
Estudos de revisão como este salientam que o uso de aplicativos de celular para a promoção de comportamentos saudáveis é algo promissor, mais ainda sem um forte arcabouço de evidências. Felizmente, existem alguns estudos em andamento buscando endossar a intervenção por aplicativos, seja como uma forma de acompanhamento pós-internação2, como intervenção para redução de consumo em bebedores leves e moderados3 ou visando entender como aplicativos podem auxiliar na redução de sintomas depressivos e consumo de álcool em jovens4.
Das pesquisas que já foram concluídas, algumas trazem resultados promissores, como um estudo europeu5 que fez acompanhamento de 6 meses em 111 pacientes que haviam feito um programa de reabilitação de 30 dias. Destes, metade recebeu apenas o tratamento regular, feito com todos os pacientes, e a outra metade recebeu, além do tratamento usual, intervenções com um aplicativo visando redução de consumo abusivo (chamado de “UcontrolDrink”, UCD). Após 6 meses de acompanhamento, os pesquisadores observaram que os pacientes que receberam a intervenção por aplicativo reduziram os dias de consumo nocivo de álcool. Esta redução foi maior do que a observada no grupo de pessoas que recebeu apenas o acompanhamento regular.
Ainda não há consenso em como devem ser validados os aplicativos de saúde que visam promoção de comportamentos saudáveis8–11, tampouco em como inseri-los na prática clínica. O que se tem de mais consolidado é que eles servirão de auxílio para os tratamentos convencionais, medicamentosos e psicoterápicos, auxiliando a manter a pessoa em tratamento, a usar os remédios prescritos pelo médico e aplicar as estratégias de redução de consumo articuladas com o psicólogo10.