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Desde seu início em novembro de 2019, a pandemia de COVID-19 tem impactado o mundo sob diversas perspectivas, com algumas populações ainda mais vulneráveis. Entre elas, podem estar os portadores de doenças hepáticas e pacientes com transtornos relacionados ao uso de álcool (TUA; abuso ou dependência) e doença hepática alcoólica (DHA), segundo artigo publicado na revista Hepatology1.As razões para isso incluem:
- risco maior de infecção grave por COVID-19, por apresentarem sistema imunológico mais fragilizado e comorbidades subjacentes de alto risco;
- efeito prejudicial da COVID-19 no fígado;
- dificuldade ou impossibilidade de comparecer regularmente aos atendimentos;
- falta de recursos hospitalares; e
- isolamento social que pode levar à descompensação psicológica e aumento de consumo de álcool ou recaída.
O consumo abusivo de álcool enfraquece significativamente as defesas do corpo contra infecções, provavelmente predispondo esses pacientes à infecção por COVID-19 ou subsequente superinfecção bacteriana. Os pacientes com TUA também apresentam, frequentemente, outras condições médicas subjacentes que os colocam em alto risco de infecção grave por COVID-19, incluindo obesidade com síndrome metabólica, doença renal crônica e/ou comprometimento do sistema imunológico devido à terapia com corticosteroides para hepatite alcoólica.
No que diz respeito aos pacientes com doença hepática alcoólica, embora as consequências médicas diretas da COVID-19 sejam atualmente desconhecidas, suspeita-se que a infecção possa promover importante descompensação se houver doença hepática crônica preexistente. Como a DHA representa uma grande parcela das doenças hepáticas crônicas, isso se traduzirá em um número maior de pacientes com descompensação de DHA. Por isso, a doença hepática crônica foi recentemente incluída pelos Centros de Controle e Prevenção de Doenças como comorbidade que coloca esses pacientes em risco especial de COVID-19. Inclusive, a Associação Americana para o Estudo de Doenças do Fígado (AASLD) recomenda que esses pacientes tenham prioridade no teste de COVID-19 se manifestarem sintomas.
Durante a pandemia, muitos pacientes não têm conseguido comparecer a consultas ambulatoriais regulares devido ao fechamento de consultórios ou a receios como: sair de casa, infectar-se no deslocamento, e potencialmente infectar membros da família. Dessa forma, é improvável que pacientes que apresentam recidiva ou têm doença hepática alcoólica não-controlada procurem assistência médica durante a pandemia, a menos que seus sintomas sejam graves. Esse cenário é ainda agravado pelo fato de que muitos hospitais se encontram sobrecarregados a ponto de não conseguirem realizar triagem do atendimento de pacientes com doença hepática alcoólica nem os transferirem para níveis de atendimento de maior complexidade.
Outro aspecto importante é que o isolamento social imposto pela pandemia e o impedimento de realizar algumas atividades de lazer costumeiras pode exacerbar a ansiedade e prejudicar tratamentos e rotinas terapêuticas, levando alguns pacientes à recaída no uso de álcool. Os autores do artigo relatam que pacientes com TUA nos Estados Unidos estão lutando para permanecer em abstinência após anos de sobriedade, porque suas reuniões e grupos terapêuticos foram cancelados.
Os autores alertam ainda para dados2 que mostram aumento em 55% nas compras de bebidas alcoólicas entre 15 e 21 de março de 2020, em comparação ao mesmo período do ano anterior. Embora esse aumento no consumo doméstico devido ao isolamento social seja contrabalançado pela falta de bebida em bares e restaurantes, essa mudança também reduz o custo por unidade de álcool - o que pode aumentar o risco de consumo nocivo.
Como resultado, os autores temem que haja mais casos de recaídas entre pacientes com dependência de álcool que estavam sóbrios, um dramático crescimento de internações por DHA descompensada e aumento de pacientes recém-diagnosticados com TUA e DHA pós-COVID-19. Sugerem que os centros especializados em tratamento de doenças hepáticas implementem estratégias preventivas, como atendimento remoto (telessaúde) e programas intensivos e proativos de rastreamento e abordagem de pacientes para garantir que eles estejam fisicamente bem e oferecer-lhes qualquer apoio possível para conter esse problema já antevisto.
Caso queira saber mais sobre os efeitos da COVID-19 em pessoas com problemas hepáticos, acesse o link: https://cisa.org.br/index.php/pesquisa/artigos-cientificos/artigo/item/210-lesoes-hepaticas-covid-desafios-tratamento