O termo chemsex é derivado das palavras “chemical” (químico) e “sex” (sexo) e não possui uma tradução específica para o português. As substâncias comumente associadas ao chemsex são usadas com o propósito de desinibir e intensificar o ato sexual e incluem GHB (gama-hidroxibutirato), metanfetaminas (como a mefedrona, também conhecida como "meph" ou "M-Cat"), cocaína e estimulantes sexuais conhecidos como "poppers". No momento, não existe uma definição consensual do termo chemsex na literatura.1
Substâncias legalizadas no Brasil, como o álcool, também podem ser usadas com esse propósito. Embora não haja pesquisas que relatem o uso isolado de álcool nesse contexto, há relatos na mídia de que associar álcool ao sexo tem se tornado frequente, sobretudo entre jovens, que buscam na substância uma forma de desinibir e relaxar durante o sexo. Mas, é importante ressaltar que essa prática pode trazer alguns riscos importantes para a saúde física e mental de seus praticantes.
Uma revisão sistemática analisou 12 artigos relacionados a chemsex indicou que a maior prevalência da prática ocorre entre a população de homens que realizam sexo com outros homens (HSH), porém não limitada a esse grupo.2 Em 2020, um estudo brasileiro realizado no Rio de Janeiro também mostrou que o uso de drogas ilícitas e álcool era comum entre HSH, sendo que a pontuação do ASSIST (Alcohol, Smoking, and Substance Involvement Screening Test), um questionário de triagem utilizado para avaliar o envolvimento e os problemas relacionados ao uso de álcool, tabaco e outras substâncias, foi maior em indivíduos que relataram o uso de chemsex.3
O chemsex está associado a uma série de riscos à saúde, conforme descrito em vários estudos e revisões sistemáticas.4,5,6,7 O principal é uma maior probabilidade de contrair infecções sexualmente transmissíveis (como o HIV). Além disso, está relacionado a comportamentos sexuais de risco, como o não uso de preservativos e envolvimento com múltiplos parceiros. Também é observado maior incidência de problemas relacionados à saúde mental, como depressão, ansiedade e episódios de paranoia. Algumas substâncias, como o GHB, apresentam um alto potencial de overdose e podem ser fatais quando misturadas ao álcool.4,5,6,7
Em relação ao manejo da intoxicação aguda do chemsex, deve-se realizar uma distinção se há associação de outras substâncias como o álcool ou a presença de transtornos psiquiátricos. O tratamento deve ser abrangente, com levantamento dos objetivos do paciente, além de prover informações e educação sobre os problemas associados ao uso das substâncias ilícitas. A psicoeducação também é crucial para redução do risco de transmissão de doenças infecciosas.
A edição de abril da Revista Piauí, que também abordou este tema, menciona como os aplicativos de encontro estão facilitando a prática do chemsex. Em entrevista para a revista, a Dra. Camila Magalhães, psiquiatra e fundadora da Caliandra Saúde Mental, ressalta que os valores sociais atuais, que prezam o acúmulo e a posse, acabam tendo alguma influência no chemsex, prática que também estimula a multiplicação de parceiros. De acordo com a psiquiatra, que também observou um crescimento do abuso de outras substâncias, como a metanfetamina, "o uso contínuo [de substâncias ilícitas] causa prejuízos irreversíveis no cérebro, entre eles a morte de neurônios, mudanças no funcionamento de neurotransmissores e alteração no sistema de recompensa”. A mudança nesse sistema cerebral faz com que atividades saudavelmente prazerosas – como uma relação sexual – passem a só produzir prazer sob o efeito da droga.
Em suma, sugere-se a investigação do uso de substâncias relacionadas à atividade sexual com objetivo de receber tratamento adequado, englobando a prevenção e rastreamento de infecções sexualmente transmissíveis, sintomas psíquicos e comportamentos de risco.1 Mais estudos são necessários para aprimorar o conhecimento sobre a prática do chemsex, os riscos associados e as melhores formas de intervenção e cuidados para a promoção de saúde das pessoas envolvidas nesta prática.8
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