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Estudo analisa o impacto do consumo de álcool em regiões do cérebro e o impacto no desenvolvimento de demência.

O consumo de bebidas alcoólicas é amplamente praticado em diversas culturas, mas a evidência científica mostra que seu uso nocivo está associado a uma série de riscos à saúde. Uma revisão de evidências analisou os impactos do consumo de álcool em diversas condições de saúde, incluindo mortalidade por todas as causas, doenças cardiovasculares, câncer e efeitos neurocognitivos.

 

Um estudo recente 1 compilado pela National Academies of Sciences, Engineering, and Medicine, uma entidade do Governo dos Estados Unidos, revisou sistematicamente as evidências sobre os impactos do álcool na saúde. A metodologia seguiu padrões rigorosos de revisão sistemática, incluindo a busca em bases de dados reconhecidas, seleção de estudos com critérios predefinidos de qualidade e avaliação do risco de viés (qualidade dos estudos) por revisores independentes, seguindo o mais alto padrão em termos de evidência científica. O objetivo foi avaliar a relação entre o consumo moderado de álcool e vários desfechos de saúde, com base em estudos de alta qualidade e revisões sistemáticas.

Um requerimento importante do estudo foi estabelecer um grupo de comparação que não incluísse no mesmo conjunto pessoas que nunca beberam e ex-bebedores, já que isso geraria um "viés de abstinência". Isso pode levar a resultados enganosos, pois as razões para a abstinência podem variar significativamente entre esses dois grupos, incluindo pessoas que nunca beberam por motivos religiosos, e outras que podem ter parado de beber por problemas de saúde. Esse viés poderia trazer uma impressão enganosa sobre a saúde das pessoas que não bebem ser pior do que as que bebem moderadamente. Com a exclusão desse viés dos estudos selecionados, as chances de se ter resultados mais fidedignos sobre os efeitos do uso moderado para a saúde são maiores. 

Os resultados destacaram associações importantes entre o consumo de álcool e diversas condições de saúde, incluindo:

  1. Mortalidade por todas as causas: O consumo moderado de álcool foi associado a uma redução de 16% no risco de mortalidade por todas as causas em comparação com abstêmios (RR 0,84, IC 95% 0,81-0,87).
  2. Doenças cardiovasculares: O consumo moderado apresentou uma associação com menor risco de infarto do miocárdio (RR 0,88, IC 95% 0,68-0,90) e acidente vascular cerebral isquêmico (RR 0,88, IC 95% 0,86-0,90).
  3. Câncer: O consumo moderado de álcool foi associado a um aumento de 10% no risco de câncer de mama (RR 1,10, IC 95% 1,02-1,19), enquanto a evidência para outros tipos de cânceres permaneceu inconsistente. 
  4. Efeitos neurocognitivos: O impacto do consumo de álcool sobre a neurocognição ainda apresenta resultados contraditórios, com algumas evidências sugerindo uma relação negativa com o declínio cognitivo.

Recomendações:

  1. Evitar o consumo excessivo: Moderação é essencial para minimizar os riscos associados à saúde.
  2. Atenção a condições específicas: Indivíduos com doenças preexistentes, como doenças hepáticas (cirrose, hepatite), cardiovasculares (hipertensão, insuficiência cardíaca), gastrointestinais (gastrite, pancreatite), neurológicas (epilepsia), psiquiátricas (depressão, ansiedade), diabetes, doenças renais ou autoimunes, devem evitar o consumo de álcool, pois ele pode afetar o tratamento e a evolução dessas condições, bem como trazer riscos adicionais à saúde.
  3. Conscientização sobre os riscos: É importante informar a população sobre os impactos do consumo de álcool, mesmo em quantidades moderadas.

Essas recomendações são particularmente relevantes para indivíduos em situações de risco, como pessoas com doenças cardiovasculares ou histórico familiar de câncer. A Organização Mundial da Saúde (OMS) reforça que nenhuma quantidade de álcool é  absolutamente segura. Gestantes e menores de idade, em particular, devem evitar completamente o consumo de álcool devido aos riscos significativos associados a essas condições.

 

 

 

 

O consumo frequente de álcool representa um impacto econômico significativo para os sistemas de saúde, gerando custos adicionais substanciais e demandando políticas públicas específicas para sua redução. Um estudo recente conduzido na Coreia do Sul identificou aumentos importantes nos custos com saúde associados ao consumo frequente de bebidas alcoólicas.

 

Um estudo recente 1, realizado na Coreia do Sul, analisou dados de uma coorte longitudinal composta por 62.965 adultos entre 40 e 69 anos, com o objetivo de investigar os custos adicionais de saúde associados ao consumo frequente de álcool. Utilizando informações coletadas pelo Serviço Nacional de Seguro de Saúde da Coreia (NHIS-NSC), o estudo acompanhou os participantes ao longo de uma década, permitindo uma avaliação detalhada dos custos relacionados a diferentes níveis de consumo de álcool em longo prazo.

Os resultados destacaram que o consumo frequente de álcool acarreta um impacto econômico significativo nos custos com saúde. Homens que consumiam álcool quase diariamente apresentaram gastos 21,4% mais altos em comparação aos não consumidores. Entre as mulheres, o impacto foi ainda mais expressivo, com um aumento de 31,8%, correspondendo a gastos adicionais anuais de até 433 dólares para mulheres e 284 dólares para homens.

O estudo também mostrou que a frequência do consumo tem um papel crucial nos custos. Entre homens, o consumo moderado (1 a 2 vezes por mês ou semana) esteve associado a custos menores em comparação aos não consumidores. No entanto, conforme a frequência aumentava para 3 ou mais vezes por semana, os gastos com saúde cresceram de maneira expressiva.

Esses achados enfatizam a relevância de políticas públicas focadas na redução do consumo frequente e excessivo de álcool para aliviar os encargos financeiros nos sistemas de saúde.

Com base nos achados, algumas recomendações práticas são importantes:

  1. Reforçar campanhas educativas sobre os riscos econômicos e de saúde relacionados ao consumo frequente e excessivo de álcool.
  2. Implementar programas preventivos e intervenções específicas para grupos que consomem álcool quase diariamente.
  3. Promover estratégias para o consumo responsável, principalmente entre grupos vulneráveis, como mulheres e adultos mais velhos.

 

 

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