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Consumo nocivo de álcool após a pandemia: um problema ainda não superado

27 Novembro 2024

Pesquisa recente aponta que o aumento no consumo de álcool observado durante a pandemia de COVID-19 persistiu em 2022, destacando possíveis efeitos duradouros relacionados ao estresse e mudanças comportamentais. 

O consumo nocivo de álcool é uma das principais causas evitáveis de morbidade e mortalidade nos Estados Unidos e em diversos outros países. Durante a pandemia de COVID-19, foi registrado um aumento no consumo de álcool associado ao estresse e um crescimento nas mortes relacionadas a ele. Estudos anteriores já documentaram esses impactos, mas havia, e há, a necessidade de avaliar se os padrões de aumento no consumo persistiram após a pandemia. Além disso, a análise de tendências entre subpopulações pode orientar políticas públicas e iniciativas de saúde para reduzir a morbidade e mortalidade relacionadas ao álcool.

Um estudo recente1, publicado em novembro de 2024, teve por objetivo determinar se o aumento no consumo de álcool observado durante a pandemia (2020, em comparação a 2018) foi mantido em 2022, após o período pandêmico mais grave. Para isso, foram utilizados dados transversais de adultos (≥18 anos) participantes do National Health Interview Survey (NHIS) entre 2018 e 2022 - essa pesquisa nacionalmente representativa usa amostragem complexa para refletir a população dos EUA - 24.965 participantes em 2018, 30.829 em 2020 e 26.806 em 2022. Vale destacar que os principais desfechos avaliados foram o consumo de álcool no último ano e o consumo excessivo, definido pelo National Institute on Alcohol Abuse and Alcoholism - NIAAA - como cinco ou mais doses em um dia (ou ≥15 doses por semana) para homens e quatro ou mais doses em um dia (ou ≥8 doses por semana) para mulheres.

O principal achado do estudo foi o de que o consumo de álcool aumentou tanto em 2020 quanto em 2022, em comparação a 2018. Olhando para o consumo de álcool no último ano, observou-se um aumento de 2,69% em 2020 e 2,96% em 2022; já para o consumo excessivo, houve um aumento de 1,03% em 2020 e 1,18% em 2022. Esses aumentos foram observados na maioria dos grupos populacionais, exceto entre indígenas e asiáticos.

Os resultados indicam que o aumento no consumo de álcool durante a pandemia não foi temporário, mas permaneceu alto e em crescimento em 2022. Isso pode estar relacionado, segundo os autores do estudo, ao estresse prolongado causado pela pandemia, persistência das mudanças nos hábitos das pessoas e a dificuldade em acessar serviços de saúde durante esse período. Apesar de algumas limitações, como a exclusão de populações militares ou institucionalizadas e possíveis respostas imprecisas dos participantes, os dados fornecem uma visão clara sobre uma questão de saúde pública. O estudo reforça a necessidade de acompanhar de perto os padrões de consumo de álcool e seus impactos.

Por fim, é possível concluir que o aumento no consumo de álcool durante e após a pandemia de COVID-19 representa um problema sério e que exige atenção. É necessário ampliar o acesso a serviços de triagem para identificar consumo nocivo, melhorar o suporte psicológico nos sistemas de saúde e promover ações nas comunidades para ajudar pessoas mais vulneráveis. Essas medidas podem reduzir os impactos na saúde pública associados ao aumento do consumo de álcool desde a pandemia - um problema ainda não solucionado. 

 

Additional Info

  • Referências:

    1. Divya Ayyala-Somayajula, Jennifer L. Dodge, Adam M. Leventhal, et al. Trends in Alcohol Use After the COVID-19 Pandemic: A National Cross-Sectional Study. Ann Intern Med. [Epub 12 November 2024]. doi:10.7326/ANNALS-24-02157

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