Entender o papel das consequências do beber excessivo nas mudanças de percepção e comportamento de curto prazo tem implicações importantes. A existência de um processo de feedback entre expectativas, uso de álcool e consequências foi demonstrada na literatura, transversal e longitudinalmente.
O presente estudo destaca a influência de consequências relacionadas ao álcool na elaboração de expectativas com relação a seus efeitos e no consumo no dia seguinte. Colaboraram com a pesquisa 327 estudantes universitários (53,4% do sexo feminino), com 19,7 anos em média. No período de um ano, os participantes responderam diariamente, por duas semanas em cada trimestre acadêmico, entrevistas por meio de smartphones. A modelagem multinível foi usada para examinar se as consequências positivas e negativas estavam associadas às expectativas relacionadas ao álcool no dia seguinte e ao consumo de álcool.
Os resultados indicaram que consequências positivas e negativas estão associadas à formulação de expectativas no dia seguinte e ao comportamento de beber, mesmo após o controle dos efeitos entre as pessoas, embora as conclusões sejam sutis quanto às associações entre as consequências e o subsequente uso de álcool. É evidente que as consequências positivas (independentemente dos efeitos reais ou percebidos) são influentes e consistentemente associadas ao aumento das expectativas positivas e do consumo no dia seguinte (se houver ocasião de consumo), mesmo incluindo simultaneamente as consequências positivas e negativas em todos os modelos.
Nos dias em que os participantes identificaram mais consequências positivas que a média, houve um aumento de 10% no volume de álcool consumido no dia seguinte (no caso de uma ocasião de consumo). Além disso, as análises posteriores indicaram que as expectativas positivas explicaram a associação entre as consequências positivas e a quantidade de álcool consumida no dia seguinte e podem ser um alvo válido de intervenção. Em um nível diário, consequências negativas estiveram associadas a mais expectativas negativas no dia seguinte. No entanto, não houve associação estatisticamente significativa com o consumo posterior de álcool nesta amostra de estudantes.
Para os bebedores leves, as consequências negativas estiveram superficialmente associadas à menor ingestão de álcool no dia seguinte, enquanto que para os mais pesados não houve associação. Os autores sugerem que a falta de experiência de bebedores leves com as consequências do uso excessivo pode influenciá-los mais facilmente. Por outro lado, bebedores pesados são menos influenciáveis por já terem vivenciado essas consequências em outras ocasiões. Vale ressaltar que a associação entre as consequências e expectativas positivas no dia seguinte foi mais forte entre os membros de residências estudantis ("repúblicas"), um grupo mais vulnerável ao consumo pesado de álcool.