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À medida que a pandemia de COVID-19 se espalhou por todos os países da região das Américas, os governos ordenaram o fechamento obrigatório de todos os serviços e empresas não essenciais. Em alguns países, as bebidas alcoólicas foram consideradas bens essenciais, enquanto outros proibiram completamente sua venda. Como esperado, o consumo de álcool mudou do âmbito público (bares, festas, restaurantes, lojas de bebida) para o privado (residências). Além desta mudança importante, a intensificação dos sentimentos de ansiedade, medo, depressão, tédio e incerteza, ocasionados pela pandemia, pode ter afetado o consumo de álcool das pessoas.
Com o objetivo de estimar o impacto da pandemia no hábito de beber, pesquisa feita pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) incluiu 55 perguntas sobre dados demográficos, medidas de prevenção à COVID-19, impactos na saúde mental (nos últimos 14 dias), e consumo de álcool antes e durante a pandemia. Elas foram respondidas por 12.328 pessoas com 18 anos de idade ou mais, residentes dos 33 países da América Latina e Caribe, sendo o Brasil o país com maior número de respondentes (3.799, 30,8% do total). A OPAS destaca que a amostra da pesquisa não é representativa da população residente na região estudada, e constitui um limite ao alcance e generalização dos resultados da pesquisa.
Em todas as regiões, a prevalência de consumo de álcool foi maior em 2019 (75,8%) do que durante a pandemia (63,4%). O Cone Sul, sub-região em que se encontra o Brasil, registrou o maior índice de consumo de álcool antes e depois da pandemia: foi de 81,4% para 73,8%. No Brasil, 74% consumiu álcool durante a pandemia – maior percentual entre todos os países. No entanto, é importante notar que o período de cobertura da pesquisa sobre o ano de 2019 foi de 12 meses, enquanto para o ano de 2020, o período de cobertura restringiu-se aos primeiros 4 meses da pandemia (março a junho). Portanto, os dados de 2020 não refletem a prevalência anual de consumo, mas sim, a prevalência durante o período avaliado da pandemia. Feita esta observação, a pesquisa mostra também que o tipo de bebida mais consumida foi a cerveja, tanto antes (52,3%) quanto durante a pandemia (48,7%), seguida pelo vinho, cujo consumo aumentou de 21,8% em 2019 para 29,3% durante a pandemia em todas as regiões, e de 28,2% para 38,1% no Cone Sul.
Outra preocupação despertada durante a pandemia, por conta do fechamento de bares e lojas de bebida, foi com o aumento da venda e consumo de álcool ilegal. Os dados da pesquisa também mostraram que apesar do consumo de destilados e bebidas preparadas em casa ser maior em 2019 do que durante a pandemia, a frequência do consumo de álcool ilegal/informal aumentou durante a pandemia de 2,2% para 4,9% mensalmente; de 1,9% para 3,0% semanalmente e 0,4% para 0,6% diariamente.
No que diz respeito ao Beber Pesado Episódico (BPE), definido como o consumo de 60 g ou mais de álcool puro em pelo menos 1 ocasião no último mês, 11,2% dos participantes relataram um aumento em sua frequência, 27,1% relataram diminuição e 61,6% não relataram mudança na frequência durante a pandemia. Dentre aqueles que aumentaram sua frequência de BPE, a maior parcela esteve situada no Cone Sul (15%) e o índice dos homens foi maior do que o das mulheres em todas as sub-regiões. No Brasil, 42% dos que declararam ter consumido álcool durante a pandemia praticaram beber pesado episódico. As pessoas mais jovens (18-39 anos) destacaram-se como as que mais praticaram BPE tanto em 2019 como durante a pandemia, sendo que 35% daqueles com idade entre 30 e 39 anos foram as que mais relataram aumentar a frequência de BPE, ao passo que aqueles com 18 a 29 anos foram os que mais diminuíram a frequência deste comportamento (40,8%). Apesar dos altos índices de BPE, a procura por ajuda tanto em 2019 como durante a pandemia foi muito baixa (0,4% e 0,3%) entre os que reportaram a prática. Uma pequena parcela tentou reduzir seu próprio consumo de álcool sozinho, sendo 10,2% em 2019 e 7,4% durante a pandemia.
A pandemia COVID-19 também teve muitos impactos na saúde mental da população. É normal e compreensível que os indivíduos fiquem mais propensos a sentir medo, preocupações, estresse, nervosismo, ansiedade e inquietação quando se deparam com a incerteza típica de crises como esta. A pesquisa mostrou que 52,8% dos respondentes relataram ao menos 1 sintoma emocional, sendo mais frequente entre mulheres. No geral, 36% da amostra total apresentou de 1 a 4 sintomas/sentimentos emocionais com frequência (quase todos os dias). A pesquisa também demonstrou associação entre o relato desses sentimentos e o consumo de álcool: aqueles que reportaram maior número de sintomas emocionais também apresentaram maior prevalência de consumo de álcool e de BPE durante a pandemia. O BPE também foi mais frequente entre as pessoas com maior renda familiar.
Apesar da frequência aumentada de sintomas emocionais durante a pandemia, a pesquisa aponta que o BPE não se alterou de forma significativa nesse período. De todo modo, na medida em que representa um grande risco à saúde, passível de agravar os problemas relativos à COVID-19 e associado a sintomas emocionais, a OPAS endossa a importância de medidas restritivas à disponibilidade e acesso ao álcool, intervenções para melhorar a saúde mental das pessoas, e informações qualificadas sobre álcool e COVID-19 que se estendam ao período pós-pandemia.
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