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Estudo realizado por pesquisadores da USP de Ribeirão Preto observou redução do consumo de risco de álcool em idosos a partir do protocolo de intervenção breve.

Pesquisadores apresentam a possibilidade de inserir o conceito  "pré-dependência" como um mecanismo para alertar a população sobre o risco de desenvolver dependência de álcool e drogas.

alcoolismo é um problema de saúde pública, que traz prejuízos ao indivíduo, aos familiares e à sociedade. Veja quais sinais indicam que é hora de procurar ajuda.

Janeiro Branco: campanha brasileira que visa alertar para os cuidados com a saúde mental e emocional. Saiba mais sobre a campanha e sua importância.

Profissões que envolvem interação frequente com bebidas alcoólicas enfrentam desafios únicos relacionados ao consumo de álcool. Para esses profissionais, o álcool está constantemente presente no ambiente de trabalho, o que pode aumentar o risco de uso nocivo.

De forma geral, o etanol é conhecido por sua capacidade de matar bactérias e vírus, mas sua eficácia depende da concentração e do tempo de exposição. O etanol em concentrações entre 60% e 85% é eficaz na eliminação de uma ampla gama de micro-organismos, mas essa eficácia é limitada ao uso externo, como em desinfetantes para as mãos e superfícies.1

Recentemente, um vídeo nas redes sociais viralizou mostrando uma mulher tomando um shot de álcool para “prevenir” uma possível intoxicação alimentar, baseada na ideia de que o álcool é um desinfetante. Embora seja verdade que o álcool pode matar bactérias e é usado para esterilizar superfícies, a eficácia dessa ação se limita ao uso externo, como na pele e em superfícies expostas.1 No caso do consumo de alimentos contaminados, o álcool ingerido não funciona da mesma maneira no interior do corpo, pois os patógenos já podem ter atravessado as barreiras naturais do sistema digestivo antes que o álcool possa inativá-los. Além disso, os efeitos do álcool dentro do organismo são muito mais complexos e podem, inclusive, comprometer o sistema imunológico em grandes quantidades, dificultando a recuperação.2

Alguns estudos pequenos sugerem que o álcool pode, em certas circunstâncias, proteger contra intoxicações alimentares, especialmente quando ingerido junto com alimentos contaminados. Um estudo realizado durante um surto de Salmonella na Espanha, por exemplo, indicou que aqueles que consumiram bebidas alcoólicas tiveram uma menor probabilidade de desenvolver sintomas de intoxicação alimentar em comparação com aqueles que não consumiram álcool.3 Outro estudo, realizado na Flórida em 1992, focou em um surto de hepatite A transmitida por ostras. Os pesquisadores descobriram que os participantes que consumiram bebidas alcoólicas com alto teor alcoólico (mais de 10%) tinham uma probabilidade significativamente menor de adoecer.4

Apesar dos resultados, esses estudos têm limitações importantes. A maioria das pesquisas que apoiam a ideia de que o álcool poderia reduzir o risco de intoxicação alimentar são observacionais e de pequena escala, o que significa que não podemos ter certeza de que o álcool foi o fator responsável pela proteção.

Fato é que o consumo excessivo pode enfraquecer o sistema imunológico, tornando o corpo mais suscetível a infecções. Estudos mostram que o uso crônico e excessivo de álcool reduz a eficácia das respostas imunológicas, diminuindo a capacidade do corpo de combater infecções bacterianas e virais.2,5 Além disso, o álcool pode causar desidratação, o que pode agravar os sintomas de intoxicação alimentar.

Embora existam algumas evidências de que o álcool pode oferecer proteção contra intoxicações alimentares em certas circunstâncias, confiar no álcool como uma medida preventiva não é recomendado. É muito mais eficaz adotar práticas seguras de manuseio de alimentos, como evitar a contaminação cruzada, cozinhar os alimentos a temperaturas adequadas, armazená-los de forma correta e não deixar alimentos perecíveis em temperatura ambiente por longos períodos. Quando for comer fora, ao escolher o estabelecimento, observe a limpeza do local, confira sua reputação e verifique se o estabelecimento possui licença sanitária e se as informações sobre os alimentos estão disponíveis. Essas estratégias são especialmente importantes para grupos vulneráveis, como crianças pequenas, idosos e pessoas com sistemas imunológicos comprometidos.

Um novo estudo analisa a relação entre inteligência na adolescência, medida através de testes de QI, e o consumo de álcool na vida adulta. Pessoas com QI maior apresentaram maiores chances de consumir álcool, mas relataram menos episódios de uso abusivo.

Novo relatório da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) analisou a carga de morbidade e mortalidade nas Américas, no período de 2000 a 2019, concentrando-se principalmente em Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNTs). 

Estudo finlandês mostra como o uso abusivo permanece alto no país a despeito da queda média do uso e os desafios para transformar uma cultura de consumo de álcool.

 

É sabido que alguns padrões de consumo de álcool se mostram mais nocivos que outros. O consumo abusivo, ou BPE, caracterizado por ser um padrão mais voltado à intoxicação, está associado a mais de 200 tipos de doenças, ao passo que o consumo moderado, principalmente junto às refeições, apresenta risco significativamente mais baixo de problemas. Alguns países, como os de cultura mediterrânea, se caracterizam pela grande prevalência de consumo diário de álcool (o que reflete em uma alta prevalência de consumo per capita, que é uma média do consumo total das pessoas com 15 anos ou mais), principalmente para acompanhar refeições (por exemplo, Espanha, Itália, Portugal), mas por níveis relativamente baixos de beber pesado episódico1. Isso significa que, nestes países, bebe-se com frequência, mas pouco por vez, o que é considerado menos nocivo. Já outros países, como a Romênia, apresentam uma baixa frequência de consumo, porém, uma alta prevalência de uso abusivo1. Como os padrões de uso estão intrinsecamente ligados à cultura de um país, é importante observar atentamente os hábitos de consumo da população.

As mudanças no consumo de álcool de uma sociedade podem ter várias causas, decorrentes de mudanças sociais, culturais e econômicas mais amplas ou de mudanças normativas ou políticas específicas relacionadas ao álcool. As mudanças podem se materializar em novos grupos de bebedores, novas situações de consumo ou padrões de consumo alterados. Esses aspectos precisam ser examinados para se entender a dinâmica das mudanças no consumo de álcool e as implicações que podem ter para o futuro.

Um estudo2 examinou as mudanças no consumo de álcool na Finlândia entre 2000 e 2016, analisando as alterações por grupo etário, gênero e nível de consumo. O objetivo foi entender como o consumo de álcool se distribui na população e como, ao longo do tempo, os padrões de consumo vão se modificando. Especialmente, entender se as mudanças no nível geral de consumo (consumo per capita) alteram sua distribuição, ou seja, se o consumo leve, moderado e pesado muda igualmente, ou se a forma da distribuição do consumo de álcool permanece inalterada. Além disso, o estudo também pretendeu investigar se havia evidência de uma mudança para um estilo de consumo mais mediterrâneo quando o consumo per capita diminuiu no país, ou seja, se o consumo estaria sendo feito de forma mais distribuída, em mais ocasiões com menos quantidade de álcool por ocasião. A principal fonte de dados são as pesquisas Finnish Drinking Habits Survey (FDHS) realizadas em 2000, 2008 e 2016. Os participantes constituíram uma amostra aleatória de residentes finlandeses com idade entre 15 e 69 anos.

Os resultados mostraram que o aumento do consumo per capita no início dos anos 2000 foi impulsionado por um aumento na frequência de consumo entre idosos e no aumento de episódios de consumo excessivo (BPE) entre as mulheres. Neste período, a população mais velha se aproximou da mais jovem, tanto na frequência de consumo quanto nos níveis de BPE.

Após 2008, houve uma redução do consumo per capita, acompanhada por uma diminuição na frequência de consumo regular e de BPE, especialmente entre homens e jovens. Essa mudança nos padrões foi acompanhada de redução nas taxas de mortalidade, sendo que mortes por ferimentos com intoxicação alcoólica como causa contributiva diminuíram de quase 1000 mortes em 2006 para cerca de 550 em 2015 (de acordo com Statistics Finland). Outros fatores podem estar em jogo; por exemplo, a melhoria do tratamento do alcoolismo ou estradas mais seguras, mas, segundo os autores do estudo, a redução do BPE muito provavelmente contribuiu para este resultado positivo.

Muitos atores políticos têm o desejo de mudar a cultura do consumo de álcool, para reduzir os problemas da intoxicação, e criar uma “cultura da temperança” ou da “moderação”. No caso da Finlândia, não há evidências de que a redução do BPE ocorreu por conta dessa mudança de estilo de consumo. O presente estudo mostrou, outrossim, que as quantidades máximas consumidas num dia por homens finlandeses são ainda muito elevadas, e o uso abusivo continua a ser um problema a ser enfrentado. Além disso, mesmo que a maior diminuição do BPE tenha sido observada justamente entre homens jovens, os resultados mostraram que este padrão continua a ser mais prevalente neste grupo. Desse modo, ainda que a diminuição do consumo tenha gerado bons resultados do ponto de vista da saúde pública, os autores concluem que resta muito a ser feito, e que políticas públicas são necessárias para combater o consumo excessivo de álcool na Finlândia.

O Brasil também observou uma redução do consumo per capita de álcool na última década, mas, ao contrário da Finlândia, não houve diminuição conjunta do uso abusivo, tampouco evidências sólidas de mudanças nos padrões de consumo da população rumo a um estilo mais ponderado. Isto nos faz refletir sobre a importância e os desafios de se promover uma cultura de consumo menos nociva, que colabore para a diminuição do abuso, bem como sobre a necessidade de políticas públicas específicas para este problema.  



 

 

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