Um estudo1, publicado em 2024, analisou dados de 6300 homens e mulheres norte americanos que participaram de um projeto longitudinal que se iniciou em 1957 (intitulado “Wisconsin Longitudinal Study”), quando os participantes tinham cerca de 18 anos. Em 2004, 47 anos depois de se formarem no ensino médio (o “high school” nos Estados Unidos), os participantes foram indagados sobre seus padrões de consumo de álcool. Especificamente, eles responderam quantas bebidas alcoólicas eles haviam consumido nos últimos 30 dias, e a frequência de beber pesado episódico (BPE ou “binge drinking”) neste período.
Dentre diversas informações sociodemográficas destes participantes, os autores deram foco para o nível escolar e a renda, buscando analisar se estes eram fatores que afetavam a relação entre o Quociente de Inteligência (QI) na adolescência e o consumo de álcool na vida adulta.
Os resultados obtidos foram bastante curiosos, e desencadearam um grande interesse na mídia internacional. Os autores observaram que, para cada ponto de aumento no teste de inteligência, havia um aumento de 1,6% em relatos de consumo moderado ou pesado de álcool. Todavia, dentre os que consumiam álcool, ter um QI maior esteve associado a menores relatos de beber pesado episódico (“binge drinking”). Como salientado pelos próprios autores, estes resultados são afetados por muitas variáveis, e há estudos em outros países, como Suécia e Dinamarca, em que maiores índices de QI estavam associados a maiores chances de abstinência2.
Um fator que afetou esta relação entre o QI e o consumo de álcool foi a renda dos participantes, pois pessoas com maior renda apresentaram maiores chances de consumo de álcool e, entre os que bebem, menores chances de consumo abusivo. Esta variável de renda considerou a renda dos pais dos participantes, dado que o estudo se iniciou quando eles estavam no fim de sua adolescência. Os autores apontam que este resultado mostra que crianças e adolescentes que crescem em um ambiente financeiramente estável podem apresentar menores chances de consumo abusivo na vida adulta.
Este estudo, embora elucidativo, possui limitações importantes. Em termos da população analisada, 99% dos participantes relataram serem brancos e nascidos no ano de 1939. A falta de diversidade da população dificulta a generalização destes resultados. Logo, como o consumo de álcool é afetado por variáveis culturais, a comparação com o Brasil deve ser feita com maior cautela. De modo geral, este estudo salienta a importância da adolescência na maturação de fatores emocionais e cognitivos que podem afetar o consumo de álcool na vida adulta.