É um mito comum a ideia de que pessoas que estão acima do peso podem beber mais. Entenda porque isso não é verdade. A obesidade é considerada hoje um grande problema de saúde pública. Sua prevalência aumentou significativamente nas últimas décadas e acredita-se que os determinantes do excesso de peso incluem uma combinação de fatores: biológicos, comportamentais, ambientais, sociais e econômicos1. Além disso, a obesidade também é um importante fator de risco para o desenvolvimento de doenças, visto que a gordura abdominal contribui para determinar o risco de doenças cardiovasculares e distúrbios metabólicos, por exemplo1. Entre os muitos problemas associados ao consumo nocivo de bebidas alcoólicas, a relação entre o consumo de álcool e o peso corporal tem sido amplamente estudada nos últimos anos. Dado que 1 grama de álcool fornece 7,1 kcal (29 kJ), estudos têm demonstrado que o consumo de álcool contribui para o excesso de energia associado ao ganho de peso2. Considerando que uma lata de 350 mL de cerveja ou uma taça de vinho correspondem a uma dose padrão de álcool, e esta contém 14 gramas de álcool puro, a contribuição é significativa. Muitos fatores influenciam a capacidade do corpo de absorver o álcool e sua tolerância a bebidas alcoólicas. Pelo fato de o etanol não ser solúvel em gorduras, uma porcentagem muito pequena do álcool, quando ingerido, é retido no tecido adiposo3. Assim, se duas pessoas tem o mesmo peso, mas uma tem mais gordura corporal, após o mesmo número de bebidas, a pessoa com mais gordura corporal terá uma concentração de álcool no sangue mais alta. Ou seja, estar acima do peso não é justificativa para aumentar o consumo de bebidas alcoólicas, pois ao contrário do que se possa pensar, o consumo abusivo de álcool unido ao sobrepeso pode gerar ainda mais consequências negativas à saúde4. Com o objetivo de esclarecer a associação entre álcool e obesidade, um estudo coreano5 com mais de 100 mil homens mostrou que o alto consumo de álcool (mais de 28 doses por semana) foi associado a maiores riscos de obesidade, hipertensão e dislipidemia (níveis de colesterol anormalmente elevados), mas não houve associação com um maior risco de diabetes Um outro ponto de preocupação relacionado ao consumo de álcool em conjunto com sobrepeso ou obesidade é o risco do desenvolvimento de doença hepática que advém da combinação desses fatores, porém ainda não está claro. Um estudo de revisão sistemática mostrou que a combinação de consumo de álcool acima dos limites recomendados e sobrepeso/obesidade podem estar associados a um risco significativamente aumentado de doença hepática crônica. E este estudo relatou que esse risco aumenta com IMC (índice de massa corpórea) maior do que 25 e consumo de álcool superior a 14 unidades/112g por semana6, o que equivale a 8 doses com 14g de álcool puro no contexto brasileiro. A relação entre o consumo de álcool e o sobrepeso/obesidade ainda precisa ser melhor estudada. Porém, apesar das limitações dos estudos atuais, é razoável dizer que a ingestão de álcool associada a obesidade/sobrepeso pode ser um fator de risco para outras doenças, provavelmente devido a muitos fatores relacionados ao estilo de vida. Desta forma, a moderação no consumo de álcool é uma recomendação importante, juntamente com uma alimentação equilibrada e um estilo de vida saudável.