O termo “drunkorexia” foi inicialmente utilizado por veículos de comunicação, e apesar de não ser considerado um termo médico, se refere à sobreposição do consumo nocivo de álcool com tendências a transtornos alimentares, e vem sendo alvo de pesquisas nos últimos anos. Existe, nesse sentido, uma proposta de mudança do termo “drunkorexia” para Food and Alcohol Disturbance (FAD), que podemos traduzir livremente como “Transtorno Alimentar e de Consumo de Álcool” (1). É um fenômeno presente principalmente em estudantes universitários, maioria do sexo feminino, embora também possa ocorrer em homens. O indivíduo com este problema faz restrição significativa da dieta quando é planejado consumo de álcool, para “poupar” calorias, ou adota comportamentos compensatórios, como a indução de vômitos, uso de diuréticos/laxantes ou atividade física extenuante (2). Em países como Austrália, por exemplo, o FAD foi declarado como problema de saúde pública, tendo em vista rápido crescimento entre universitárias (3).
A maioria das pessoas que apresenta este quadro relata como principal motivação o controle de peso. Em geral, consomem álcool com frequência e de maneira abusiva (engajando em BPE*), e possuem a crença de que este uso levará ao ganho de peso. Sendo assim, se também apresentarem medo patológico de ganhar peso, preocupação obsessiva com magreza e alimentação ou distorção da imagem corporal, serão mais propensas ao desenvolvimento de FAD (4). Vale lembrar que aspectos socioculturais também participam do entendimento do problema, com o culto em larga escala feito a pessoas magras, especialmente mulheres, na sociedade ocidental contemporânea. E isso se agrava com os efeitos que o consumo nocivo de álcool pode ter no organismo das mulheres.
A substituição de alimentos por bebidas alcoólicas é bastante perigosa, assim como as outras formas de compensação. Bebidas alcóolicas contêm “calorias vazias”, isto é, apesar de fornecerem energia, não oferecem nutrientes, e com a dieta inadequada, pode ocorrer uma carência de elementos essenciais ao funcionamento do corpo. Dependendo do caso, podem ocorrer alterações no equilíbrio de elementos básicos do sangue, sem o qual o coração e o cérebro adoecem de forma relevante (1,2).
O uso abusivo de álcool é associado a muitas consequências negativas, e quando o quadro de drunkorexia acontece, o risco para tais consequências é ainda maior. Portanto, medidas que contribuam para a conscientização das pessoas sobre o problema, bem como políticas públicas cientificamente pautadas, especialmente focadas para mulheres, são necessárias para conter e prevenir esta tendência.
*BPE: Padrão definido pela Organização Mundial de Saúde como consumo de 60 ou mais gramas (cerca de 5-6 doses) de álcool puro em uma única ocasião, ao menos uma vez por mês. No Brasil, uma (1) dose padrão contém aproximadamente 14 g de álcool puro, o equivalente a uma lata de cerveja (330 ml) ou uma dose de destilados (30 ml) ou ainda a uma taça de vinho (100 ml).