Conheça mais sobre a ressaca: sua definição, fatores que a influenciam e prejuízos associados.
A ressaca é definida como a combinação de sintomas físicos e mentais que se manifestam após um episódio de consumo de álcool, geralmente iniciando quando a concentração de álcool no sangue (CAS) se aproxima de zero. Esses sintomas incluem cefaléia, náuseas, fadiga, tontura, sensibilidade à luz, alterações de humor, irritabilidade e prejuízo da concentração. Estima-se que 78% dos bebedores sociais tenham episódios de ressaca, índice que pode chegar a 90% entre os chamados bebedores pesados.1
Fisiopatologia da Ressaca
O quadro de ressaca é multifatorial. O acetaldeído, principal metabólito do etanol, é uma substância altamente tóxica e inflamatória, envolvida nos sintomas mais intensos da ressaca. Outros mecanismos incluem desidratação (decorrente do efeito diurético do álcool), alterações imunológicas, hipoglicemia, distúrbios do sono e irritação gastrintestinal.2
Evidências recentes mostram também a ativação de citocinas inflamatórias (como IL-6 e TNF-α) durante a intoxicação alcoólica, o que afeta o sistema nervoso central e contribui para sintomas como letargia, dor, alterações cognitivas e variações de humor mesmo após a eliminação do álcool da corrente sanguínea.3
Tipo de bebida alcoólica e congêneres
Bebidas escuras, como uísque, conhaque e vinho tinto, contêm maiores concentrações de congêneres, subprodutos do processo de fermentação, como metanol e acetona. Estudos mostram que essas substâncias estão associadas a maior gravidade e duração dos sintomas de ressaca, por prolongarem os efeitos tóxicos da metabolização alcoólica.4
No entanto, vale destacar que o principal determinante da ressaca ainda é a quantidade total de álcool consumida. A ingestão de doses elevadas de etanol, independentemente do tipo de bebida, está diretamente relacionada à intensidade dos sintomas no dia seguinte. Assim, mesmo bebidas com baixo teor de congêneres podem causar ressaca significativa quando consumidas em excesso.
Fatores individuais de vulnerabilidade
A suscetibilidade à ressaca varia entre indivíduos. Características genéticas, como variações na atividade da enzima ALDH2 (responsável por metabolizar o acetaldeído), influenciam diretamente a severidade dos sintomas. Outros fatores relevantes incluem sexo, idade, estado nutricional, saúde mental e padrão de sono.
Um estudo recente, em 2025, publicado na revista Journal of Clinical Medicine investigou a associação entre frequência e intensidade das ressacas, demonstrando que indivíduos que relatam ressacas com mais frequência tendem a experimentar sintomas mais intensos. Essa relação permaneceu significativa mesmo após o controle para variáveis como quantidade de álcool consumida, idade, sexo e índice de massa corporal.5
Esses achados reforçam que é um mito a ideia de que pessoas que bebem com frequência desenvolvem “resistência” à ressaca. A resposta fisiológica como inflamação, desidratação e queda glicêmica continua ocorrendo, mesmo que o indivíduo relate menos incômodo. A normalização da ressaca como algo “tolerável” pode, inclusive, mascarar padrões de uso de risco.
Existe tratamento?
Apesar de diversas abordagens populares, não existe tratamento cientificamente comprovado para curar ressaca. Algumas substâncias como antioxidantes (ex.: N-acetilcisteína) ou extratos fitoterápicos vêm sendo investigadas,6,7 mas ainda sem evidência robusta para recomendação clínica. Dessa forma, as medidas preventivas continuam sendo as mais eficazes:
Em casos de ressaca severa ou recorrente, é importante avaliar se há padrão de uso de risco ou sinais de transtorno por uso de álcool. Nesses casos, a recomendação é buscar orientação profissional com um médico ou especialista em saúde mental, que poderá avaliar o padrão de consumo, oferecer suporte adequado e, se necessário, indicar estratégias de redução de danos ou encaminhamento para tratamento.