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Conheça mais sobre a ressaca: sua definição, fatores que a influenciam e prejuízos associados.

Assim como a cerveja, o vinho tinto também pode levar a um aumento na pressão arterial

Os parentes estão envolvidos desde a adesão ao tratamento até a superação das dificuldades.

Um estudo recente analisou o uso de medicamentos para transtorno por uso de álcool em pacientes com cirrose, visto ser escassa a segurança e eficácia desses medicamentos nessa população.

A recaída é um fenômeno complexo e um desafio substancial no tratamento do transtorno por uso de álcool (TUA). Apesar dos avanços em tratamentos psicológicos e medicamentosos, uma parte considerável dos indivíduos volta a consumir álcool após um período de abstinência. Estimativas apontam que até 60 a 70% das pessoas podem recair nos primeiros seis meses após o tratamento.1 Entender o que caracteriza uma recaída, quais fatores aumentam esse risco e como preveni-la é essencial para promover uma recuperação mais duradoura.

O que é a recaída - e como ela se diferencia de um lapso?

Embora muitas vezes usados como sinônimos, recaída e lapso representam situações diferentes no processo de recuperação. Lapso é um episódio isolado de consumo de álcool, que pode ocorrer durante a recuperação, mas não implica necessariamente o retorno ao padrão de consumo anterior. Já a recaída é entendida como um processo mais amplo, que envolve o retorno a um padrão problemático e sustentado de consumo.

Estudos destacam que a recaída deve ser analisada tanto como um evento discreto (por exemplo, qualquer consumo de álcool após um período de abstinência) quanto como um processo mais complexo, influenciado por diversos fatores ao longo do tempo. Essa distinção é importante, pois nem todo lapso leva à recaída – e reconhecer isso pode ajudar a evitar sentimentos de fracasso que desmotivam a continuidade do tratamento.

Fatores que aumentam o risco de recaída

Pesquisa aponta fatores específicos que elevam significativamente o risco de recaída.1 Um deles é a anedonia, ou seja, a dificuldade em sentir prazer nas atividades do dia a dia. Pessoas com altos níveis de anedonia apresentam maior chance de voltar a beber após o tratamento. Outro fator importante é o tabagismo: indivíduos que continuam fumando durante o tratamento para o TUA têm mais risco de recaída do que ex-fumantes ou não fumantes .

Além disso, o tempo de abstinência antes do início do tratamento também tem papel relevante. Pessoas que haviam parado de beber há menos tempo antes de iniciar o tratamento mostraram maiores taxas de recaída ao longo dos meses seguintes.

Um estudo que monitorou indivíduos em tempo real, por meio da Avaliação Ecológica Momentânea (EMA), mostrou que o estresse cotidiano é um gatilho direto para recaídas.3 Participantes que relataram níveis elevados de estresse tinham maior probabilidade de consumir álcool nas horas seguintes, indicando que o estresse atua como um disparador imediato — e não apenas como um fator de risco geral. A pesquisa também observou que, à medida que o estresse aumentava ao longo do dia, crescia também o desejo de beber, sugerindo que o álcool pode ser utilizado como forma de aliviar tensões momentâneas, o que reforça o risco de recaída.

 

 

Prevenção: o que funciona?

A prevenção da recaída envolve estratégias que atuam sobre os fatores de risco citados. Intervenções que incluem o tratamento de sintomas depressivos (como a anedonia), o incentivo à cessação do tabagismo e o fortalecimento de habilidades de enfrentamento diante de situações de estresse são especialmente eficazes. O apoio contínuo após o fim do tratamento formal também é fundamental, ajudando a identificar sinais precoces de risco e evitar que um lapso evolua para uma recaída completa. Compreender a recaída como um processo – e não apenas como um “fracasso” – permite que profissionais e pacientes construam juntos planos mais realistas, empáticos e ajustados às necessidades individuais.

A recaída no transtorno por uso de álcool é um fenômeno comum e multifacetado, que pode ser prevenido com estratégias baseadas em evidências. Compreender a diferença entre um lapso e uma recaída, identificar fatores de risco como anedonia, tabagismo e baixa abstinência prévia, e oferecer suporte contínuo são passos fundamentais para uma recuperação mais sólida. Recaídas não significam o fim do caminho – com o suporte certo, é possível retomar a trajetória de sobriedade com confiança e consciência.



 

 

O consumo excessivo de álcool tem sido associado a diversos prejuízos à saúde, mas recentemente, pesquisas têm destacado seu impacto significativo no envelhecimento cerebral. Este artigo explora como a ingestão elevada de álcool pode acelerar o processo de envelhecimento do cérebro e afetar a flexibilidade comportamental.

Aceleração do Envelhecimento Cerebral por Consumo de Álcool

Pesquisas têm demonstrado que o consumo pesado de álcool pode levar a um envelhecimento cerebral mais rápido. Estudos como o de Battista et al. (2025) usaram algoritmos de aprendizado de máquina em imagens de ressonância magnética para evidenciar que maiores escores no AUDIT (questionário desenvolvido pela Organização Mundial da Saúde para identificar padrões prejudiciais de consumo de álcool) estão correlacionados com um envelhecimento cerebral acelerado, associado a uma maior incidência de erros perseverativos em tarefas que medem a flexibilidade comportamental.1

Impacto Comportamental do Envelhecimento Cerebral

A flexibilidade comportamental, que é a capacidade de adaptar comportamentos em resposta a mudanças ambientais, é significativamente afetada pelo consumo de álcool. Um estudo detalhado realizado com dados do UK Biobank, envolvendo mais de 36.000 adultos, descobriu que até mesmo níveis moderados de consumo de álcool estão associados a mudanças significativas no cérebro.2 A pesquisa mostrou que as associações negativas entre a ingestão de álcool e a estrutura cerebral, tanto em termos de volume global de matéria cinza quanto de integridade da matéria branca, já são aparentes em indivíduos que consomem uma média de apenas uma a duas unidades de álcool diariamente. 

Evidências Genéticas do Impacto do Álcool no Envelhecimento Biológico

Além dos estudos comportamentais e de neuroimagem, análises genéticas também apontam para o efeito acelerador do álcool no envelhecimento. Um estudo conduzido pela Universidade de Oxford utilizou a randomização mendeliana para analisar a relação entre o consumo de álcool e o comprimento dos telômeros.3 A pesquisa revelou que um maior risco genético para o transtorno do uso de álcool estava associado a telômeros significativamente mais curtos. Esta associação destaca uma relação causal entre uma predisposição genética para altos níveis de consumo de álcool e uma aceleração do envelhecimento biológico. O estudo demonstra que o impacto do álcool se estende para além das funções cerebrais, atingindo o nível genético e acelerando o envelhecimento celular, o que pode contribuir para o desenvolvimento de doenças relacionadas à idade.

Em resumo, o conjunto das evidências reforça a necessidade de abordagens preventivas e intervenções focadas na redução do consumo de álcool para preservar a saúde cerebral e retardar o envelhecimento. As implicações destas descobertas são cruciais tanto para indivíduos quanto para políticas públicas de saúde.



 

 

 

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