O estrogênio desempenha um papel fundamental nas respostas neurobiológicas ao álcool em mulheres. Evidências recentes mostram que flutuações hormonais ao longo do ciclo menstrual e ao longo da vida podem influenciar a sensibilidade ao álcool, o padrão de consumo e os riscos associados ao seu uso.
Estudos pré-clínicos e clínicos indicam que o estrogênio amplifica os efeitos da dopamina em áreas cerebrais relacionadas ao sistema de recompensa, como o corpo estriado e o córtex pré-frontal. Isso pode aumentar a vulnerabilidade das mulheres ao desenvolvimento de transtornos por uso de álcool, especialmente em fases da vida com altos níveis estrogênicos, como durante o ciclo ovulatório, gravidez ou terapia hormonal.1
O estradiol é um hormônio esteroide, especificamente um estrogênio, produzido principalmente nos ovários em mulheres e em menor quantidade nos testículos em homens. Estudos indicam que o consumo de álcool pode aumentar os níveis de estradiol em mulheres, efeito observado tanto em mulheres em idade reprodutiva quanto em mulheres na pós-menopausa. Alguns estudos mostram que mulheres que consomem uma ou mais doses de álcool por dia apresentam níveis mais elevados de estradiol em comparação àquelas que consomem menos, especialmente quando os níveis hormonais são avaliados durante a fase lútea do ciclo menstrual.2,3 Em contrapartida, mulheres com transtorno por uso de álcool em tratamento ou em abstinência precoce frequentemente apresentam níveis mais baixos de estradiol do que mulheres sem transtorno.4
Altos níveis de estradiol parecem aumentar a vulnerabilidade das mulheres ao uso de álcool. O hormônio influencia regiões cerebrais envolvidas na recompensa, como o corpo estriado e o núcleo accumbens. Um estudo conduzido por Martel et al. (2017), com 22 mulheres em idade reprodutiva, mostrou que níveis mais altos de estradiol estavam associados a maior consumo de álcool e episódios de binge drinking. Essa associação foi mais forte quando os níveis de estradiol estavam altos e os de progesterona baixos, um padrão hormonal típico da fase ovulatória do ciclo menstrual.5
Embora as evidências atuais apontem para uma interação relevante entre os níveis de estradiol e o uso de álcool em mulheres, os mecanismos fisiológicos subjacentes ainda não são completamente compreendidos. Ainda são necessários estudos experimentais e longitudinais para elucidar como o estradiol influencia a neurobiologia da recompensa e da vulnerabilidade ao uso de álcool, bem como os efeitos do álcool sobre a função endócrina em diferentes fases da vida da mulher.
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