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O consumo frequente de álcool representa um impacto econômico significativo para os sistemas de saúde, gerando custos adicionais substanciais e demandando políticas públicas específicas para sua redução. Um estudo recente conduzido na Coreia do Sul identificou aumentos importantes nos custos com saúde associados ao consumo frequente de bebidas alcoólicas.

 

Um estudo recente 1, realizado na Coreia do Sul, analisou dados de uma coorte longitudinal composta por 62.965 adultos entre 40 e 69 anos, com o objetivo de investigar os custos adicionais de saúde associados ao consumo frequente de álcool. Utilizando informações coletadas pelo Serviço Nacional de Seguro de Saúde da Coreia (NHIS-NSC), o estudo acompanhou os participantes ao longo de uma década, permitindo uma avaliação detalhada dos custos relacionados a diferentes níveis de consumo de álcool em longo prazo.

Os resultados destacaram que o consumo frequente de álcool acarreta um impacto econômico significativo nos custos com saúde. Homens que consumiam álcool quase diariamente apresentaram gastos 21,4% mais altos em comparação aos não consumidores. Entre as mulheres, o impacto foi ainda mais expressivo, com um aumento de 31,8%, correspondendo a gastos adicionais anuais de até 433 dólares para mulheres e 284 dólares para homens.

O estudo também mostrou que a frequência do consumo tem um papel crucial nos custos. Entre homens, o consumo moderado (1 a 2 vezes por mês ou semana) esteve associado a custos menores em comparação aos não consumidores. No entanto, conforme a frequência aumentava para 3 ou mais vezes por semana, os gastos com saúde cresceram de maneira expressiva.

Esses achados enfatizam a relevância de políticas públicas focadas na redução do consumo frequente e excessivo de álcool para aliviar os encargos financeiros nos sistemas de saúde.

Com base nos achados, algumas recomendações práticas são importantes:

  1. Reforçar campanhas educativas sobre os riscos econômicos e de saúde relacionados ao consumo frequente e excessivo de álcool.
  2. Implementar programas preventivos e intervenções específicas para grupos que consomem álcool quase diariamente.
  3. Promover estratégias para o consumo responsável, principalmente entre grupos vulneráveis, como mulheres e adultos mais velhos.

 

 

O consumo de álcool e seus efeitos na saúde humana têm sido objeto de intensos debates. Enquanto a Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta que não há um nível seguro de consumo, estudos recentes sugerem que doses moderadas podem apresentar efeitos protetores para certas condições, incluindo doenças autoimunes. Os mecanismos por trás desse fenômeno ainda não são completamente compreendidos, mas envolvem interações complexas entre o sistema imunológico, inflamação e microbiota intestinal.

 

As doenças autoimunes resultam de uma resposta imunológica desregulada, em que o organismo passa a atacar suas próprias células e tecidos. Entre as condições mais estudadas nesse contexto estão artrite reumatoide (AR), lúpus eritematoso sistêmico (LES), esclerose múltipla (EM) e tireoidites autoimunes. Estudos apontam que o álcool pode exercer um papel dual, atuando como fator de risco em altos consumos e como possível fator protetor em doses moderadas.

Benefícios potenciais do consumo moderado

Uma revisão publicada na revista científica International Journal of Molecular Sciences destacou que o consumo leve a moderado de álcool pode modular a resposta imunológica e reduzir a inflamação sistêmica. A pesquisa sugere que o álcool pode influenciar a população de células imunes, estimulando a produção de citocinas anti-inflamatórias como IL-10 e TGF-β. Esse efeito foi observado em doenças como artrite reumatoide, onde indivíduos que consumiam álcool de forma moderada apresentaram menores escores de atividade da doença e melhor qualidade de vida. É importante ressaltar, no entanto, que a maioria desses estudos são experimentais ou encontram-se em fase inicial de investigação em humanos, sendo necessárias pesquisas mais robustas e de longo prazo para confirmar esses achados preliminares.

Outro aspecto relevante é a interação entre o álcool e a microbiota intestinal. A revista Gut Microbes relatou que o álcool, em doses moderadas, pode modificar a composição do microbioma, favorecendo bactérias benéficas, como Akkermansia muciniphila, que desempenham um papel protetor contra doenças autoimunes. Essa alteração pode impactar a permeabilidade intestinal, reduzindo o risco de translocação bacteriana e consequente ativação do sistema imune. Contudo, esses resultados provêm principalmente de estudos in vitro ou em modelos animais, sendo prematuro extrapolar diretamente para recomendações clínicas em pacientes com doenças autoimunes."

Riscos associados ao alto consumo

Por outro lado, a mesma revisão aponta que o consumo excessivo de álcool tem efeitos deletérios na imunidade, aumentando a produção de espécies reativas de oxigênio (ROS) e favorecendo a liberação de citocinas pró-inflamatórias, como IL-6 e TNF-α. Isso pode exacerbar doenças autoimunes, favorecendo a progressão de quadros inflamatórios crônicos. Além disso, a toxicidade hepática do álcool pode agravar doenças como hepatite autoimune e colangite biliar primária.

O que dizem as diretrizes?

As diretrizes sobre consumo de álcool e doenças autoimunes ainda são incertas. Enquanto a American College of Rheumatology recomenda evitar o consumo para pacientes em uso de medicamentos hepatotóxicos, como metotrexato, diretrizes do Reino Unido sugerem que pacientes podem consumir álcool dentro dos limites gerais recomendados. No entanto, devido à complexidade dos efeitos do álcool, a avaliação deve ser individualizada, considerando fatores como histórico médico, gravidade da doença e uso de medicamentos.

Considerações finais

A relação entre consumo de álcool e doenças autoimunes é complexa e multifacetada. Enquanto evidências sugerem que doses moderadas podem ter efeitos imunomodulatórios benéficos, o consumo excessivo pode agravar inflamações e desregulações imunes. O desafio é compreender melhor os mecanismos envolvidos e definir diretrizes baseadas em evidências robustas. Até lá, a moderação e a individualização das recomendações continuam sendo as melhores abordagens.

 

 

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