Pesquisa comprova que o uso de álcool com medicamentos para o tratamento do HIV pode prejudicar o tratamento. Para pessoas que vivem com problemas de saúde crônicos e usam medicações de uso contínuo, sempre é necessário avaliar com seu médico se há interação entre os fármacos e o consumo de álcool. A terapia antirretroviral (TARV) transformou a infecção pelo HIV de uma doença fatal para uma doença crônica controlável com medicações. Também houve avanço em drogas com toxicidade mais baixa que reduzem os efeitos adversos na adesão ao tratamento. Apesar desses avanços, quem faz uso de TARV pode consumir bebidas alcoólicas? Para entender o perigo da associação entre a TARV e o consumo de álcool, é preciso compreender como o álcool é processado no organismo. A maior parte do álcool ingerido é metabolizado no fígado, pela ação da enzima álcool desidrogenase (ADH). Esta enzima converte o álcool em acetaldeído, que, mesmo em pequenas concentrações, é tóxico para o organismo. A enzima aldeído desidrogenase (ALDH), por sua vez, converte o acetaldeído em acetato. Algumas classes de antirretrovirais, como por exemplo o abacavir (Ziagen ®), apresentam metabolismo similar ao do etanol, podendo gerar interações entre eles ou aumentar a toxicidade dos medicamentos. Além das alterações relacionadas ao metabolismo dos antirretrovirais associadas ao consumo de álcool, pode haver uma diminuição na adesão ao tratamento em pessoas que fazem consumo nocivo de álcool. Nestes casos, devem ser consideradas intervenções para melhor adesão medicamentosa1. As consequências mais reconhecidas do uso de álcool na adesão à medicação são relacionadas aos efeitos cognitivos, particularmente aqueles que resultam em lapsos de memória, planejamento prejudicado, desorganização e desmotivação. Alguns estudos mostram que mesmo o consumo moderado pode ser disruptivo para a adesão à terapia antirretroviral. Nestes casos, porém, mais preocupante que a perda de dose esporádica, são as interrupções prolongadas do tratamento, particularmente com o uso crônico e excessivo de álcool3. Dessa forma, em razão da potencial interação e aumento da toxicidade dos medicamentos, assim como potencial diminuição na adesão ao tratamento, o consumo de álcool em quem faz TARV deve ser avaliado com cautela junto à equipe médica que realiza o acompanhamento do paciente.