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Os avanços na área da saúde e a implementação de medidas preventivas da infecção pelo HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana) reduziram a detecção de novos casos de pacientes soropositivos, mas em contrapartida, entre as pessoas que estão vivendo com HIV, notou-se um aumento do consumo de substâncias que causam dependência e repercutem na vida social, econômica e psicológica dessa população [1].

Nessa perspectiva, estudos têm avaliado como o consumo de bebidas alcoólicas pode influenciar na progressão da infecção pelo HIV e a sobrevivência dos pacientes. Pesquisas mostram que a prevalência de transtornos por uso de álcool entre pessoas vivendo com HIV/AIDS chega a aproximadamente 30%, sendo essa prevalência maior em homens (26,90%) do que em mulheres (13,37%) [2], o que confirma um consumo excessivo de álcool nesta população que também está associado a uma pior adesão ao tratamento, maior risco para o desenvolvimento de problemas no fígado e adoção de comportamentos sexuais de risco. Estas constatações despertam atenção especialmente porque os antirretrovirais (medicamentos para o tratamento de infecções por vírus) disponíveis exigem um regime de uso complexo e possuem efeitos colaterais importantes.

Um estudo realizado na Filadélfia no início dos anos 2000 descreveu como a associação entre o consumo de álcool e a progressão de doenças relacionadas ao HIV e à toxicidade dos medicamentos, bem como o grau de preocupação dos profissionais de saúde teria alguma relação com consumo excessivo de álcool por seus pacientes [3].

A amostra investigada era constituída por 881 veteranos norte-americanos com diagnóstico positivo para o HIV. Vinte e três porcento dos pacientes consumiam álcool de maneira prejudicial de acordo com o AUDIT (questionário de rastreamento para uso abusivo do álcool) e 12,5% e 66,7% foram, respectivamente, descritos por seus profissionais de saúde como consumidores de álcool em excesso na atualidade ou em algum momento da vida.

Os resultados mostraram que os participantes que consumiam bebidas alcoólicas de forma prejudicial tinham maiores chances de apresentar carga viral detectável (p < 0,001). Quanto aos profissionais de saúde, os autores concluíram que estes deixaram de identificar o grau de severidade de consumo de álcool em pacientes que possuíam carga viral indetectável, pacientes sem diagnóstico de hepatite C, e pacientes sem alterações hematológicas e com contagem de células CD4 superior a 200/mL (severidade menor de infecção pelo HIV). Com isso os pesquisadores concluíram que entre os veteranos soropositivos, o consumo de álcool de forma prejudicial foi um diagnóstico comum e estava associado ao desenvolvimento de complicações decorrentes da infecção pelo HIV, comorbidades (coexistência de doenças) hepáticas e anemia.

Outro estudo, mais recente, conduzido na África subsaariana, também mostrou uma associação  do uso de álcool à não adesão ao TARV (Terapia Antirretroviral). Os indivíduos que consumiam bebidas alcoólicas tinham duas vezes mais chances de não adesão à TARV (34%) em comparação com aqueles que não ingeriam álcool (18%) [4].

É notório o quanto o álcool sobrecarrega (ainda mais) o organismo de indivíduos que já passam por um complexo processo de efeitos adversos vindos do uso de medicamentos antirretrovirais. Além disso, o uso de bebidas alcoólicas pode afetar diretamente a saúde deste grupo e influenciar indiretamente em outros domínios da qualidade de vida que são imprescindíveis para a continuidade do tratamento, como o bem-estar mental e psicológico.

Pacientes portadores do vírus HIV positivo com problemas associados ao consumo de bebidas alcoólicas respondem bem ao tratamento antiretroviral se acompanhados por programas de tratamento domiciliar.

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© CISA, Centro de Informações sobre Saúde e Álcool