Pesquisas recentes têm analisado as diferenças nos efeitos do álcool no organismo feminino. Dados epidemiológicos têm indicado o aumento do consumo de álcool entre as mulheres em todo o mundo (OMS, 2018). Diante desse cenário, pesquisas recentes têm analisado as diferenças nos efeitos do álcool no organismo feminino. Sabe-se que as mulheres são mais sensíveis à essa devido a diferenças na composição biológica (NIAAA, 1997). O álcool mistura-se facilmente com a água e, como o corpo feminino tem um volume de água proporcionalmente menor que o masculino, essa substância fica muito mais concentrada, intensificando seus efeitos. As mulheres também apresentam níveis menores de enzimas responsáveis pela metabolização do álcool, demorando mais para eliminá-lo do organismo. Isso faz com que os efeitos ocorram mais rapidamente e sejam mais duradouros. Com isso elas têm maior probabilidade de desenvolver problemas relacionados ao álcool com níveis de consumo mais baixos e/ou em idade mais precoce do que os homens. Esses problemas de saúde incluem: inflamação hepática, doenças cardiovasculares e câncer de mama. Adicionalmente, a concentração de alguns hormônios varia durante o ciclo menstrual, que tem duas etapas. Na primeira, que começa no primeiro dia de menstruação, aumenta a produção de estrogênio, que é o hormônio responsável pelas características femininas. Na segunda fase, que começa com a ovulação, o estrogênio vai diminuindo e a progesterona – que prepara o corpo para a gravidez – aumenta. Essas oscilações hormonais estão relacionadas a sintomas físicos (inchaço, sensibilidade nos seios, dores de cabeça) e variações no humor no período que antecede a menstruação. Vale ressaltar que esses hormônios circulam pela corrente sanguínea, chegando ao cérebro. Lá, eles influenciam a produção da serotonina: um “mensageiro” químico que regula o humor. Alguns estudos (Carrol et al., 2015) sugeriram um aumento no consumo de álcool durante as fases pré-menstrual/menstrual. Os resultados indicaram uma tendência, entre as que mulheres que relataram consumo moderado de álcool, a beber mais quando estavam menstruadas. A partir desses achados, um estudo canadense (Joyce et al., 2018) analisou variações nos hábitos de consumo de álcool das mulheres ao longo do ciclo menstrual, monitorando mudanças nas motivações para beber. Noventa e quatro mulheres colaboraram com a pesquisa relatando diariamente, por meio de smartphones, perguntas sobre seus estados emocionais e motivos de consumo de álcool. Como esperado, o consumo de álcool variou ao longo do ciclo menstrual. Os resultados sugeriram que os motivos para beber, especificamente os sociais e relacionados a estratégias de enfrentamento de sentimentos negativos (depressão e ansiedade), oscilaram em diferentes fases do ciclo, aumentando nas fases pré-menstrual e menstrual. Esses achados têm implicações importantes para o desenvolvimento e o aprimoramento de estratégias de prevenção e intervenção de padrões nocivos de consumo de álcool entre as mulheres. Profissionais de saúde devem estar atentos ao ciclo menstrual das pacientes ao tratar mulheres com transtornos por uso de álcool, tendo em mente que os fatores de risco para beber mais podem ser exacerbados em algumas fases.