O uso de álcool durante a gestação é um problema de saúde pública que traz consequências graves, tanto à mãe quanto ao feto. Entre os efeitos na saúde materna, estão aumento de risco para sangramentos durante a gravidez, aborto espontâneo, parto prematuro e descolamento prematuro de placenta1. Com relação ao feto, a exposição ao álcool no pré-natal está associada a efeitos teratogênicos, ou seja, que são capazes de produzir danos e interferir no processo de desenvolvimento do feto, além de uma variedade de condições ao longo da vida conhecidas como transtornos do espectro alcoólico fetal – TEAF (FASD na sigla inglês – Fetal Alcohol Spectrum Disorders)2. E uma das consequências mais sérias e incapacitantes do consumo de álcool durante a gestação é a síndrome alcoólica fetal (SAF), a forma mais grave e visivelmente identificável de TEAF, incluindo danos cerebrais permanentes, anomalias congênitas e déficits de funcionamento cognitivo, comportamental, emocional e adaptativo2,3.
Contudo, o consumo de álcool durante a gravidez é um comportamento de risco totalmente evitável. E embora os estudos sobre os efeitos do consumo de álcool tanto leve quanto moderado não sejam conclusivos, a principal recomendação é de que as mulheres gestantes, lactantes ou tentantes (aquelas que pretendem engravidar), se abstenham de qualquer quantidade de álcool, pois não há consumo de álcool que seja seguro nestas fases.
Apesar destas recomendações, de acordo com as últimas estimativas, 9,8% da população geral de grávidas no mundo consome álcool no pré-natal4. Na Europa, região com maior taxa de uso de álcool durante a gestação, a prevalência chega a 25,2%4. No Brasil, um estudo recente mostrou que, aproximadamente, 14% das gestantes brasileiras relataram consumo de álcool na gestação e 10% apresentaram uso inadequado de álcool durante a gravidez, sendo a prevalência de ingestão de bebidas alcoólicas mais elevada em mulheres em situação de maior vulnerabilidade social e em tabagistas1.
Consequências do uso de álcool para o feto e bebê5
Estudos apontam que a ingestão de bebidas alcoólicas na gestação pode influenciar na subnutrição do feto. Isso acontece porque o álcool atravessa com mais facilidade a placenta do que os micronutrientes, além de estimular, por conta de sua toxicidade, a vasoconstrição dos vasos na região, dificultando ainda mais a passagem dos nutrientes para o feto em desenvolvimento. O álcool também aumenta a filtração glomerular, fazendo com que o feto perca nutrientes junto com a urina produzida em excesso. Com isso, a subnutrição fetal tende a gerar atraso no crescimento intrauterino e aumentar ainda mais os efeitos tóxicos sobre os órgãos e sistemas.
Outro ponto de atenção é a SAF, síndrome que vem crescendo em nível mundial, chegando a números próximos aos da síndrome de Down e do espectro autista, condição que tem uma relação direta ao aumento também crescente de grávidas que fazem o consumo de álcool. A SAF é considerada uma doença congênita grave, com comprometimento de órgãos importantes e do sistema nervoso central, além de problemas comportamentais, déficit de desenvolvimento cognitivo e até a tendência a transtornos de ansiedade e depressão na adolescência ou na vida adulta. Bebês nascidos com SAF também podem apresentar dismorfias faciais e retardo no crescimento corporal. Outros comprometimentos provenientes do espectro que foram avaliados são: problemas cardíacos, renais, ósseos, dentre outros.
Para saber mais, leia Síndrome Alcoólica Fetal (SAF): o que é e como prevenir?
Consequências do uso de álcool durante a amamentação
Há um mito de que alguns tipos de bebidas alcoólicas podem aumentar a produção do leite materno. No entanto, o álcool não aumenta a produção, pelo contrário, a ingestão de álcool neste período pode reduzir a produção do leite. Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria6, isso ocorre porque o álcool inibe o hormônio prolactina, hormônio responsável pela produção do leite materno, encurtando o tempo da amamentação. Além disso, o álcool também pode alterar o cheiro e o sabor do leite e, por isso, pode ser recusado pelo bebê, o que prejudica não só a amamentação, mas também o desenvolvimento da criança.
Como resultado, o bebê pode apresentar sonolência, sudorese, sono profundo, fraqueza, e como consequência ganho anormal de peso e diminuição do crescimento linear. E, como o cérebro do bebê continua em desenvolvimento, o álcool pode atingir seu sistema nervoso provocando lesões irreversíveis.
Consequências do uso de álcool para as tentantes
Pesquisas mostram que o consumo de bebidas alcoólicas, principalmente o consumo frequente e excessivo, está associado à diminuição da fertilidade da mulher e a um alto risco de irregularidades menstruais7. Contudo, ainda não está claro qual seria o mecanismo que faz com que o consumo afete negativamente a fertilidade feminina. Uma das hipóteses sugere que há uma alteração nas concentrações de hormônios endógenos (ou seja, produzidos pelo próprio organismo), o que afeta diretamente a maturação dos óvulos, a ovulação e o desenvolvimento embrionário7.
O consumo excessivo de álcool nas diferentes fases do ciclo menstrual também pode prejudicar a fecundabilidade (definida como a probabilidade de engravidar num ciclo menstrual). Um estudo relatou que beber muito (mais de 6 doses por semana) e de forma moderada (de 3 a 6 doses por semana), durante a fase lútea (período próximo a menstruação) e na fase de ovulação está associado a uma menor chance de concepção8.
Para saber mais, leia Álcool e Fertilidade Feminina
Os períodos de gestação e lactação são momentos muito especiais na vida da mulher. Por isso são fases que requerem muita atenção.
Cuide da sua saúde e da saúde do seu bebê!