English Version

Álcool e Fertilidade Feminina

27 Abril 2022

 

Saiba como o consumo de álcool, principalmente o consumo abusivo e crônico, pode estar relacionado à redução da fertilidade feminina

A infertilidade é definida tecnicamente como a incapacidade de engravidar após doze meses de relações sexuais rotineiras e sem métodos contraceptivos1. Ou seja, se um casal tenta engravidar por um ano e não consegue, é possível que eles se encaixem nesta definição. Estima-se que cerca de 15% dos casais em todo o mundo têm dificuldade em engravidar. 

De acordo com a OMS, a infertilidade pode afetar cerca de 80 milhões de mulheres em todo o mundo2. No entanto, a infertilidade feminina contribui para apenas 35% dos casos gerais; 20% dos casos estão relacionados a mulheres e homens em conjunto, 30% envolvem problemas apenas por parte dos homens e 15% dos casos de infertilidade permanecem sem explicação3

Há evidências sugerindo que o consumo de álcool, especialmente o consumo excessivo e o consumo crônico, esteja relacionado à redução da fertilidade feminina e a um risco maior de desenvolver distúrbios menstruais3. No entanto, o mecanismo pelo qual este consumo afeta negativamente a fertilidade ainda não foi totalmente determinado. Uma hipótese sugere que há alteração das concentrações de hormônios endógenos (isto é, produzidos pelo próprio organismo), trazendo um impacto direto na maturação do óvulo, ovulação, e desenvolvimento embrionário3. Um estudo mostrou que o consumo de 14 doses de álcool por semana, em comparação com nenhuma ingestão de álcool, está associado ao aumento das concentrações de estrogênio total, o que poderia reduzir a secreção de FSH (hormônio folículo estimulante) - tendo impacto negativo na foliculogênese e na ovulação4. Também é crucial enfatizar que o consumo de álcool durante a gravidez pode resultar em efeitos adversos no desenvolvimento do feto, como a Síndrome Alcoólica Fetal

O aumento da ingestão de álcool, em diferentes fases do ciclo menstrual, também pode prejudicar a fecundabilidade (definida como a chance de se engravidar no período de um ciclo menstrual). Um estudo mostrou que a ingestão pesada (mais do que 6 doses por semana) de bebidas alcoólicas na fase lútea e na fase ovulatória está associada a chances reduzidas de concepção, e a ingestão moderada (de 3-6 doses por semana) durante a fase lútea (período que vai da ovulação até a menstruação) também está associada a uma redução das chances de fecundação5. Ou seja, o consumo moderado a intenso de bebidas alcoólicas durante a fase lútea e o consumo intenso de álcool na janela ovulatória podem atrapalhar a delicada sequência de eventos hormonais femininos, afetando as chances de uma concepção bem-sucedida5.

Além das alterações das concentrações hormonais que podem atrapalhar a maturação do óvulo, ovulação e o desenvolvimento embrionário, os componentes tóxicos presentes no álcool, como carbamatos de etila, também podem prejudicar a fertilidade feminina4. Assim, os estudos que avaliam fatores que implicam na fertilidade feminina sugerem que evitar o álcool é importante para a proteção da fertilidade6.

Em conclusão, os resultados desses estudos apoiam que o consumo excessivo de álcool e o Beber Pesado Episódico são preditores de menor probabilidade de concepção, e sugerem que mesmo os níveis modestos de consumo de álcool podem diminuir a fertilidade se consumidos durante intervalos fisiológicos críticos do ciclo menstrual. Assim, se você pensa em engravidar, vale uma reflexão sobre o seu consumo de álcool para uma concepção saudável. Lembrando que a recomendação da OMS para as mulheres que estão tentando engravidar é a mesma que para as que já estão grávidas, ou seja, a interrupção total do consumo de álcool.  

 

Veja também Consumo de bebida alcoólica afeta a fertilidade masculina?

Additional Info

  • Referências:

    1. Vander Borght M, Wyns C. Fertility and infertility: Definition and epidemiology. Clin Biochem. 2018;62:2–10. https://doi.org/10.1016/j.clinbiochem.2018.03.012

    2. Silvestris, Erica, Domenica Lovero, and Raffaele Palmirotta. "Nutrition and female fertility: an interdependent correlation." Frontiers in endocrinology (2019): 346.

    3. Skoracka, Kinga, et al. "Female Fertility and the Nutritional Approach: The Most Essential Aspects." Advances in Nutrition 12.6 (2021): 2372-2386.

    4. Fan D, Liu LI, Xia Q, et al. Female alcohol consumption and fecund-ability: a systematic review and dose-response meta-analysis. Sci Rep. 2017;7(1):13815.

    5. Mohammad Yaser Anwar, Michele Marcus, Kira C Taylor, The association between alcohol intake and fecundability during menstrual cycle phases, Human Reproduction, Volume 36, Issue 9, September 2021, Pages 2538–2548, https://doi.org/10.1093/humrep/deab121

    6. Wang Y, Yuan Y, Meng D, Liu X, Gao Y, Wang F, Li Y, He W. Effects of environmental, social and surgical factors on ovarian reserve: Implications for age-relative female fertility. Int J Gynaecol Obstet. 2021 Sep;154(3):451-458. doi: 10.1002/ijgo.13567. Epub 2021 Feb 11. PMID: 33569772; PMCID: PMC8451883.

Assine o nosso Boletim

© CISA, Centro de Informações sobre Saúde e Álcool