Nos EUA, muitos casos de morte, entre estudantes universitários, têm sido atribuídos à co-ingestão de álcool e medicamentos controlados por receituário médico. Um levantamento nacional norte-americano, realizado entre universitários, identificou que os estudantes que faziam uso recreacional de drogas prescritas tinham seis vezes mais chances de fazer uso pesado de álcool que os estudantes que não o faziam. Em vista disso, o objetivo do presente estudo foi identificar, entre universitários, a prevalência, os correlatos e as implicações associadas ao uso múltiplo de medicamentos prescritos e bebidas alcoólicas.
O estudo contou com a participação de 4580 universitários (idade média de 19,9 anos; 50,3% mulheres; 65,1% etnia branca) que foram solicitados a responder uma pesquisa na internet sobre saúde mental (“Student Life Survey”). Especificamente quanto ao uso de álcool e outras drogas foram consideradas as seguintes medidas: (a) prevalência de uso de álcool (nos últimos 12 meses); (b) idade de início do uso de álcool; (c) uso recreacional de medicamentos prescritos (categorias: analgésicos, estimulantes, indutores de sono e ansiolíticos); (d) uso simultâneo e paralelo (não simultâneo) de álcool e medicamentos prescritos (nos últimos 12 meses); (e) avaliação da incidência de problemas sociais, acadêmicos ou legais decorrentes do consumo de álcool; (f) prevalência do abuso de álcool (nos últimos 12 meses) (CAGE) e, finalmente (g) prevalência de abuso de outras drogas, exceto álcool (nos últimos 12 meses) (DAST-10 - Drug Abuse Screening Test).
A prevalência do uso múltiplo de álcool e medicamentos prescritos foi de 12,1% (56,8% do tipo simultâneo e 43,2% paralelo), de tal forma que 1 a cada 10 universitários relatou fazer esse tipo de uso. A categoria dos opióides foi a mais prevalentemente usada (7,2%), embora a categoria de estimulantes tenha sido empregada com maiores frequências (média: 3,3 dias nos últimos 12 meses). A prevalência do uso simultâneo foi maior para todas as categorias de medicamentos. Ser homem, branco e ter iniciado precocemente o uso de álcool na vida (até 14 anos: 68,4%) foram os fatores preditores do uso simultâneo de drogas prescritas a álcool. Além disso, em relação ao uso paralelo, os universitários que relataram fazer uso simultâneo tinham maiores chances de vivenciar consequências negativas relacionadas ao uso de álcool e outras drogas. Por fim, os universitários que relataram fazer uso simultâneo tiveram 2 vezes mais chances de desenvolver abuso de drogas que os estudantes de uso não-simultâneo (paralelo) (critérios do DAST).
Conforme os autores, usar simultaneamente medicamentos prescritos a álcool pode gerar um efeito cumulativo (efeito aditivo) ou um efeito sinérgico (efeito supraditivo) entre as substâncias, de tal forma que representa, ao indivíduo, uma forma especialmente perigosa de abuso. Assim, em função dos riscos associados, as universidades deveriam conscientizar-se sobre esse uso, informando seus estudantes a respeito. Além disso, dever-se-ia estimular a realização de outros estudos que pudessem explorar o tema em maior profundidade, possibilitando a identificação dos fatores de risco individuais e situacionais relacionados ao uso simultâneo de drogas.