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O consumo de álcool associado ao uso de medicamentos para disfunção erétil por homens jovens saudáveis

18 Janeiro 2023

Estudos alertam para os efeitos prejudiciais do uso recreativo de medicamentos para disfunção erétil associado ao consumo de álcool.

Nas últimas décadas, foram desenvolvidos diversos medicamentos para o tratamento da disfunção erétil, como o sildenafil , vardenafil e o taladafil. Mediante estímulo sexual, sua ação resulta em maior relaxamento da musculatura peniana e maior acúmulo sanguíneo no corpo cavernoso.


Apesar de ser recomendado para indivíduos com disfunção erétil (sob orientação médica), o uso recreativo destes medicamentos tem sido muito difundido entre os jovens, ao ponto de passarem a ser rotulados como “drogas de estilo de vida” no imaginário popular2. Isso ocorre porque boa parte não apresenta problemas de ereção e utiliza estes remédios seja por diversão, curiosidade, insegurança ou por desejo de aumentar a performance sexual1,2.


No Brasil, um estudo com jovens estudantes de medicina (N=167) apontou o uso recreativo disseminado destes remédios4, conhecidos por atuarem como inibidores da enzima fosfodiesterase 5 (PDE5); 9% dos jovens entrevistados relataram ter usado tais medicamentos sem indicação médica. Dentre estes indivíduos, 46,7% usaram mais de três vezes e 71,4% disseram ter consumido alguma bebida alcoólica na mesma ocasião em que utilizaram os inibidores de PDE5.


De fato, muitas vezes, os indivíduos podem associar o álcool ao uso desses medicamentos, pois o álcool aumenta a sensação de autoconfiança e leva à desinibição social, o que facilitaria a busca de um parceiro e a conquista do mesmo2. Além disso, há a crença errônea de que o álcool melhora o desempenho sexual. Na realidade, dependendo da quantidade ingerida, o álcool tende a diminuir a libido. Após o consumo dessa “mistura”, os jovens relatam sentirem-se eufóricos, potentes e desinibidos, o que pode levar a uma diminuição da percepção de riscos e dificuldade na tomada de decisões, aumentando a probabilidade de manter relações sexuais sem proteção, e por conseguinte, de contágio por infecções sexualmente transmissíveis e gravidez indesejada.


O uso indevido e desnecessário desses medicamentos não traz benefícios ao usuário; ao contrário, pode promover efeitos adversos indesejáveis, como dor de cabeça e priapismo (ereção involuntária e persistente). A prevalência de disfunção erétil entre os alcoólicos é elevada, e o álcool pode agravar uma disfunção erétil já existente, além de trazer diversos outros efeitos adversos para os indivíduos5.


É importante alertar que, assim como o álcool, o uso desses remédios também tem sido relacionado a um maior comportamento sexual de risco1,2. Ademais, os efeitos adversos dos remédios para disfunção erétil em jovens ainda não foram completamente explorados. Alguns estudos sugerem que, em longo prazo, podem diminuir a fertilidade.


O fácil acesso a esses medicamentos e o desconhecimento de seus efeitos prejudiciais, associados às crenças e expectativas sexuais dos indivíduos, acaba por aumentar a disseminação desse uso, sendo fundamental a divulgação de informações que apontem o real efeito desta combinação perigosa4. Também é necessário o incentivo a pesquisas científicas sobre os impactos individuais e epidemiológicos do tema.

Additional Info

  • Referências:

    1. Atsbeha BW, Kebede BT, Birhanu BS, Yimenu DK, Belay WS, Demeke CA. The weekend drug; recreational use of sildenafil citrate and concomitant factors: a cross-sectional study. Front Med 8, 2021.
    2. Lifestyle medicines | the BMJ. https://www.bmj.com/content/321/7272/1341.1 08, 25, 2022.
    3. Harte CB, Meston CM. Recreational use of erectile dysfunction medications in undergraduate men in the United States: characteristics and associated risk factors. Arch Sex Behav 2010.
    4. Korkes F, Costa-Matos A, Gasperini R, Reginato PV, Perez MDC. Recreational use of PDE5 inhibitors by young healthy men: recognizing this issue among medical students. J Sex Med 5:2414–2418, 2008.
    5. Taymour Mostafa, MD, Moheiddin F. Alghobary, MD. Recreational Use of Oral PDE5 Inhibitors: The Other Side of Midnight. Sexual Medicine Reviews 10(3):392–402, 2022.

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