Nas últimas décadas, foram desenvolvidos diversos medicamentos para o tratamento da disfunção erétil, como o sildenafil , vardenafil e o taladafil. Mediante estímulo sexual, sua ação resulta em maior relaxamento da musculatura peniana e maior acúmulo sanguíneo no corpo cavernoso.
Apesar de ser recomendado para indivíduos com disfunção erétil (sob orientação médica), o uso recreativo destes medicamentos tem sido muito difundido entre os jovens, ao ponto de passarem a ser rotulados como “drogas de estilo de vida” no imaginário popular2. Isso ocorre porque boa parte não apresenta problemas de ereção e utiliza estes remédios seja por diversão, curiosidade, insegurança ou por desejo de aumentar a performance sexual1,2.
No Brasil, um estudo com jovens estudantes de medicina (N=167) apontou o uso recreativo disseminado destes remédios4, conhecidos por atuarem como inibidores da enzima fosfodiesterase 5 (PDE5); 9% dos jovens entrevistados relataram ter usado tais medicamentos sem indicação médica. Dentre estes indivíduos, 46,7% usaram mais de três vezes e 71,4% disseram ter consumido alguma bebida alcoólica na mesma ocasião em que utilizaram os inibidores de PDE5.
De fato, muitas vezes, os indivíduos podem associar o álcool ao uso desses medicamentos, pois o álcool aumenta a sensação de autoconfiança e leva à desinibição social, o que facilitaria a busca de um parceiro e a conquista do mesmo2. Além disso, há a crença errônea de que o álcool melhora o desempenho sexual. Na realidade, dependendo da quantidade ingerida, o álcool tende a diminuir a libido. Após o consumo dessa “mistura”, os jovens relatam sentirem-se eufóricos, potentes e desinibidos, o que pode levar a uma diminuição da percepção de riscos e dificuldade na tomada de decisões, aumentando a probabilidade de manter relações sexuais sem proteção, e por conseguinte, de contágio por infecções sexualmente transmissíveis e gravidez indesejada.
O uso indevido e desnecessário desses medicamentos não traz benefícios ao usuário; ao contrário, pode promover efeitos adversos indesejáveis, como dor de cabeça e priapismo (ereção involuntária e persistente). A prevalência de disfunção erétil entre os alcoólicos é elevada, e o álcool pode agravar uma disfunção erétil já existente, além de trazer diversos outros efeitos adversos para os indivíduos5.
É importante alertar que, assim como o álcool, o uso desses remédios também tem sido relacionado a um maior comportamento sexual de risco1,2. Ademais, os efeitos adversos dos remédios para disfunção erétil em jovens ainda não foram completamente explorados. Alguns estudos sugerem que, em longo prazo, podem diminuir a fertilidade.
O fácil acesso a esses medicamentos e o desconhecimento de seus efeitos prejudiciais, associados às crenças e expectativas sexuais dos indivíduos, acaba por aumentar a disseminação desse uso, sendo fundamental a divulgação de informações que apontem o real efeito desta combinação perigosa4. Também é necessário o incentivo a pesquisas científicas sobre os impactos individuais e epidemiológicos do tema.