Durante a infância, os pais são a primeira e maior influência na vida de seus filhos. Já na adolescência, é comum o aumento do desejo de autonomia, abrindo espaço para que outras figuras, principalmente os amigos, tenham importância cada vez maior em suas vidas, influenciando o que querem ser, fazer, vestir, os gostos e hábitos.
A influência dos amigos é normal e, na maioria das vezes, boa, mas, em algumas situações, os pares podem não só dar maus exemplos como, mais grave, pressionar o adolescente para fazer algo que nunca fez ou que não se sinta confortável em fazer.
A adolescência é um período de descobertas e vulnerabilidades. Nem sempre é fácil perceber que um amigo está pressionando o outro para fazer algo que ele não faria. Além disso, muitas vezes, o adolescente sucumbe à pressão para não ficar de fora do grupo ou para se sentir aceito pelos pares.
Influência e seleção dos pares
A maioria das pessoas nos países ocidentais começa a consumir álcool ou outras substâncias ainda na adolescência. Isso acontece porque beber tem sido considerado uma forma de socializar nesse período da juventude, além de o álcool ser menos estigmatizado do que o tabaco e outras drogas ilícitas.Mas há também outro fator importante para o início do consumo: a pressão dos pares. A influência dos pares é um processo importante que pode levar a mudanças nas atitudes e comportamentos dos adolescentes para o bem e para o mal.
Um adolescente pode ser influenciado de forma direta, quando um de seus pares o incentiva a fazer algo, ou por meio da percepção dos comportamentos do grupo, quando faz algo que todos estão fazendo para ser aceito e manter seu status.
É crucial diferenciar entre a influência dos pares e a seleção dos pares no que diz respeito ao consumo de álcool. A influência dos pares ocorre quando um indivíduo é exposto ao comportamento de amigos que já consomem bebidas alcoólicas, o que pode levar o indivíduo a começar a beber também. Isso pode ser influenciado pela pressão social dos amigos ou pela simples observação do comportamento deles. Em outras situações, pode ocorrer o inverso, isto é, o indivíduo opta por estar com amigos que têm comportamentos semelhantes aos seus próprios, incluindo o consumo de álcool, o que é chamado de “seleção dos pares”. Nesse caso, o indivíduo que já consome álcool ou tem o desejo de consumir procura amigos que compartilhem dessa atitude.
A pressão dos pares
Estudos2 mostram que a pressão dos pares aumenta o envolvimento em práticas de consumo de risco, como o hábito de beber. Adolescentes em fase de amadurecimento, por exemplo, estão sujeitos a diversas influências dos pares. Nessa fase, o corpo está mudando e, consequentemente, a aparência física pode fazer com que se sintam rejeitados, criando uma necessidade muito grande de aceitação. Essa necessidade, por sua vez, pode fazer com que consumir álcool seja percebido como condição para ser melhor visto pelo grupo.
Outros fatores de risco também contribuem para maior risco de envolvimento com álcool e outras drogas em idade precoce, como falta de monitoramento dos pais, histórico de uso de drogas e outras substâncias na família, assim como hiperatividade e impulsividade na infância.
É importante reforçar que a pressão dos pares ocorre com mais frequência entre jovens e adolescentes, mas pesquisas1 mostram também que ela pode afetar pessoas ao longo de toda a vida, inclusive na idade adulta.
Pressão amigável existe?
É preciso estar atento porque, em muitos casos, a pressão dos pares para beber álcool é descrita como “amigável”, fazendo com que o indivíduo não sinta que se trata de “pressão”, mas enxerga apenas amigos que o incentivam a beber, como uma brincadeira.
Por outro lado, pesquisas1 mostram que algumas pessoas que não bebem enxergam a “pressão” de forma mais agressiva, desagradável, intimidadora e até em tom de ameaça.
Como lidar com a pressão para beber?
Segundo pesquisa feita com universitários2 que não bebem, a principal estratégia para fugir da pressão é evitar o consumo sem declarar abertamente sua opção por não beber. Há grupos que relatam ceder à pressão num primeiro momento para serem aceitos, mas depois suspendem o consumo.
Alguns entrevistados relataram a necessidade de justificar a opção por não ingerir bebidas alcoólicas dando um motivo “aceitável” para seus pares. Entre os motivos aceitáveis para aliviar a pressão, ganhar a aceitação e evitar perder o status social no grupo, estão: dieta detox, estar dirigindo, questões médicas ou estar tomando antibióticos e, no caso das mulheres, gravidez.
Se você não bebe, seja qual for o motivo, está se sentindo desconfortável com a pressão de seus colegas, mas não consegue dizer não, procure ajuda de alguém em quem confie para compartilhar o problema e buscar possíveis soluções.