O papel da mulher na sociedade foi ampliado nas últimas décadas, em consequência, questões sociais e culturais sofreram importantes modificações, como o comportamento de beber, por exemplo. Observa-se um aumento do consumo de álcool entre as mulheres, fato que necessita de atenção, visto que as consequências do uso nocivo de álcool no organismo feminino não são totalmente definidas.
Os efeitos do consumo de álcool na mulher apresentam várias especificidades devido a momentos como o ciclo menstrual, gestação e amamentação.1 Além desses momentos específicos, é observado que fatores sociais como a maternidade e a ocupação da mulher no mercado de trabalho podem favorecer a individualidade do diagnóstico e do tratamento. Os fatores orgânicos, como a composição corporal de água no organismo, anatomia, absorção, metabolismo e presença de hormônios, influenciam diretamente as consequências negativas em relação ao consumo de álcool, mesmo em menores quantidades consumidas quando comparadas aos homens.
Questões relacionadas ao gênero e sexo, embora culturalmente dependentes, indicam que, para o sexo feminino, há uma maior vulnerabilidade à agressão sexual, violência por parceiro íntimo, além de normas e estereótipos de gênero mais negativos sobre o uso de álcool por mulheres.2
Um decreto publicado pelo National Institutes of Health, nos Estados Unidos, em 1994, determinou que pesquisas clínicas deveriam incluir mais participantes do sexo feminino, o que levou a um desenvolvimento de estudos voltados para saúde das mulheres.3 Porém, mulheres ainda são identificadas como uma população pouco pesquisada no que se refere ao consumo de álcool. Nos Estados Unidos, apenas 15% das mulheres com transtorno por uso de álcool procuraram tratamento. Também é observado que o tempo entre o primeiro uso de álcool até o início dos problemas relacionados ao álcool é mais curto entre mulheres do que em homens.4
O tratamento para transtornos por uso de álcool nas mulheres apresenta necessidades que diferem dos homens. Elas também enfrentam algumas barreiras únicas para o acesso. Essas barreiras podem explicar parcialmente a discrepância de gênero nas taxas de início de tratamento, incluindo: baixa percepção da necessidade de tratamento, culpa e vergonha decorrentes das expectativas tradicionais de gênero, e estigma social das mulheres com dependência de álcool, depressão e outras comorbidades psiquiátricas, maiores disparidades de emprego e educação em relação aos homens e responsabilidade de cuidados dos filhos, com medo de serviços de proteção à criança.5
As necessidades específicas das mulheres devem fazer parte do tratamento, incluindo a prestação de cuidados infantis nos locais de atendimento, cuidados pré-natais, ambientes exclusivos femininos e a presença de serviços complementares que abordem tópicos voltados para mulheres. O tratamento farmacológico também necessita ser melhor investigado, pois, na medida em que há diferença na forma de metabolizar o álcool no organismo das mulheres, esse processo e respostas a medicações devem ser exploradas e investigadas.
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