Entrevista por Cinthia Prado
Técnico da seleção brasileira de vôlei masculino e diretor-presidente do Instituto Compartilhar, Bernardo Rocha de Rezende, o Bernardinho, fala da importância do esporte na prevenção do consumo de álcool por crianças e adolescentes.
Com iniciativas para promover qualidade de vida a crianças e adolescentes, na faixa etária de 9 a 15 anos, como o guia “Escolha Certa: Esporte sem álcool” – desenvolvido em parceria com o CISA – Bernardinho afirma: “O Esporte tem um poder de transformação enorme”.
1. Com a primeira etapa do Programa Escolha Certa, que realizamos em parceria, o Instituto Compartilhar observou maior interesse dos alunos em entender o tema “esporte sem álcool”? Como?
A experiência foi muito boa. A grande dificuldade do jovem é dizer “não” para a sua tribo, para o seu grupo pertencente. O que pudemos ver nos encontros, pelas atitudes dos alunos, foi que, muitas vezes, o que eles precisam é de uma justificativa que os façam sair ou negar esse convite do “beber”. E o esporte acaba sendo um grande aliado para isso, com posicionamentos como: “Olha, eu não posso ir a festa ou não posso beber porque eu treino ou jogo amanhã e isto atrapalha o meu rendimento”. Além disso, a prática esportiva estimula hábitos de vida mais saudáveis que normalmente o afastam destas tentações da juventude.
2. Vocês já vivenciaram casos de jovens que se afastaram do álcool após o início da prática esportiva? Como esta questão foi abordada?
Não temos relatos dos professores de que isto acontece com frequência. Porém, em um dos projetos no Paraná, onde as crianças faziam parte de um programa de erradicação do trabalho infantil e estavam em situação de maior vulnerabilidade – era obrigatório a participação nas atividades complementares de contra turno, inclusive as esportivas -, as atitudes mais agressivas, muitas vezes, podiam ter relação com o consumo de álcool ou outras drogas. A abordagem tinha que ser diferente, inclusive tivemos uma psicóloga do esporte que ajudou nas intervenções dos nossos professores. Mas em todos os projetos, onde os alunos se inscrevem por vontade própria, a Metodologia Compartilhar de Iniciação do Voleibol estimula aulas motivantes com a vivência de valores como cooperação, respeito, responsabilidade até chegar a autonomia. Falamos permanentemente sobre escolhas, mostrando a eles que nossa missão é formar pessoas melhores com capacidade de tomar suas decisões sabendo das consequências. O vôlei é assim, como não pode reter a bola para pensar no que fazer, você deve ter sempre diversas opções para escolher a melhor para aquele momento. E a consequência, ou o resultado, é imediato. Um ótimo treinamento para tomada de decisão.
3. Qual a importância do esporte na formação de crianças e adolescentes como alternativa de vida saudável e meio de prevenção do uso precoce e abusivo do álcool?
A gente acredita muito, até pela experiência de 19 anos em projetos sociais, que o esporte tem um poder de transformação enorme e, talvez, esse seja o nosso ponto principal: atrair pelo esporte e oferecer uma oportunidade de vivência positiva na prática, para que a criança gostando dessa experiência – principalmente na faixa etária entre 9 e 12 anos – possa continuar jogando e crie hábitos mais saudáveis para toda a sua vida. Um esporte bem trabalhado ajuda a fixar valores e faz com que o comportamento do aluno fique, teoricamente, mais compatível a diversos ambientes. Reforçamos muito a mensagem positiva. Por isso, dizer que o esporte é bom por isso e aquilo é muito melhor do que dizer: “Não consuma bebidas alcoólicas!”. Tudo bem que isso é lei – é proibido oferecer e vender bebidas alcoólicas para menores de 18 anos -, mas a sociedade não reage desta forma. Então, a conscientização é fundamental para mostrar os malefícios do álcool no seu corpo. Que se você começar a beber cedo, terá problemas mais cedo também e talvez isso impeça você de aproveitar muitas oportunidades que aparecem.