Estudo encontrou uma correlação entre diminuição do volume do cérebro e consumo de álcool. Leia nosso texto para entender melhor o que isso quer dizer! Um estudo recente, publicado pela revista científica Nature Communications, encontrou uma correlação entre consumo de álcool e diminuição da massa branca encefálica1. Os autores analisaram um banco de dados do Reino Unido, conhecido como UK Biobank, totalizando dados de mais de 36 mil pessoas. A idade média do grupo foi de 63 anos, sendo que a maioria das pessoas variava até 7 anos em torno desta média. Cinquenta e três por cento das pessoas era do sexo feminino, e 2.900 relataram não beber álcool. O estudo busca aferir a “saúde” estrutural do cérebro através de técnicas de imagem. De maneira resumida, estas técnicas permitem tirar uma espécie de foto do cérebro, contrastando algumas de suas regiões mais importantes, como a massa branca e cinzenta. Estas imagens do cérebro foram depois comparadas com o relato de consumo de álcool de cada uma das pessoas. Desse modo, os autores agruparam pessoas que eram abstêmias e pessoas que bebiam pouco (consumo leve, de 1 a 2 unidades de álcool[1]) e muito (consumo pesado, mais de 4 unidades de álcool). Como principal resultado, os pesquisadores encontraram que o consumo de 2 unidades de álcool por dia (o equivalente a uma latinha de cerveja, ou uma taça de vinho ou uma dose de destilado) estaria associado a uma redução no volume da massa branca e cinzenta do cérebro. Estes efeitos foram consideravelmente mais severos em pessoas que consumiam mais doses diariamente. E segundo os autores, é a primeira vez que uma correlação entre consumo leve de álcool e diminuição do volume encefálico foi reportada. Este resultado tem grande relevância científica, mas é importante destacar também suas limitações. A primeira delas é que o estudo considera na amostra apenas indivíduos de meia-idade de ascendência europeia que vivem no Reino Unido. É razoável supor, como apontam os autores, que a relação observada seja diferente em indivíduos mais jovens que não experimentaram os efeitos crônicos do álcool no cérebro. Outra limitação decorre das medidas de ingestão de álcool do Biobank do Reino Unido, que cobrem apenas o ano anterior à participação. Tais estimativas podem não refletir adequadamente o consumo de álcool anterior a esse período e são suscetíveis a vieses de relato e recordação. Além disso, o estudo, feito a partir de um desenho transversal, não permite a identificação de efeitos causais. Em outras palavras, uma correlação entre consumo leve de álcool e redução da massa encefálica não implica necessariamente que um gere o outro. Outros fatores (chamados fatores de confusão) não considerados na pesquisa podem afetar os resultados. Uma investigação mais aprofundada da natureza causal das relações entre a ingestão de álcool e a anatomia do cérebro seria importante para averiguar esta hipótese. O álcool é fator de risco para mais de 200 tipos de transtornos, sendo responsável 5% dos óbitos mundiais a cada ano2. Isso, por si só, já é motivo suficiente para evitar o consumo nocivo e não recomendar pessoas abstêmias a beber. Por conta disso, se você é maior de idade e bebe, o consumo moderado é sempre recomendado. Se quiser entender mais sobre os padrões de consumo de álcool, veja nosso texto sobre o assunto. [1] A unidade de álcool foi definida como 8 gramas de álcool puro, o que é equivalente a meia dose padrão de álcool, ou seja: meia lata de cerveja, meia taça de vinho ou 20 mL de destilados.