Nos últimos 30 anos estudos científicos indicaram que o uso moderado de álcool reduz a incidência de doenças coronarianas, em especial de enfartes do miocárdio (1,2,5).
Estes resultados levaram a uma série de investigações para descobrir se o álcool era de fato o elemento responsável pela prevenção de problemas cardíacos ou se a baixa incidência de problemas cardíacos estava relacionada ao estilo de vida do indivíduo, em especial ao seu tipo de alimentação e ao fato do indivíduo praticar exercícios físicos (1).
Atualmente sabe-se que o consumo de 1 a 4 doses diárias de álcool pode reduzir significativamente o risco de doenças coronarianas (3,4) e o consumo de 5 ou mais doses diárias pode aumentar seus riscos (4,5). Através de uma meta-análise (sistemática revisão da literatura científica que combina diferentes estudos para se chegar a um resultado único), Rimm e outros (1999) concluíram que (1):
. O consumo de até aproximadamente 30g/dia (aproximadamente duas doses diárias de álcool), aumenta em até 4,0 mg/Dl (4 miligramas por decilitro) o nível do colesterol ligado a proteínas de alta densidade (HDL), considerado o bom colesterol. O HDL é responsável pela remoção do colesterol ligado a lipoproteínas de baixa densidade (LDL), o que previne a ocorrência de aterosclerose.
. O consumo de até aproximadamente 30g/dia de álcool diminui os níveis de fibrinogênio em até 7.5 mg/Dl. O fibrinogênio, que está associado ao processo de coagulação e formação de trombos, leva a uma redução do risco de problemas coronarianos em até 12,5%.
. O consumo de até aproximadamente 30g/dia de álcool aumenta os níveis de triglicérides em até 5,7%, o que pode ser traduzido em um risco de até 4,6% de complicações coronarianas. No entanto, quando este índice é considerado conjuntamente com o aumento do nível do colesterol HDL e a diminuição dos níveis de fibrinogênio, há ainda 27,5% de redução no risco do indivíduo vir a desenvolver doença coronariana.
Quanto aos efeitos maléficos do álcool, Walsh e outros em um estudo epidemiológico 5 de 2002 concluíram que altas doses de álcool (5 ou mais doses/dia) podem levar ao comprometimento do ventrículo esquerdo do coração. Problemas no ventrículo esquerdo podem levar à cardiomiopatia dilatada (4,6), sendo que nos Estados Unidos o uso excessivo de álcool é considerado o principal fator para a ocorrência de cardiomiopatia (5).
Apesar da cardiomiopatia ter diversas causas, inclusive um componente genético, ela esta associada a mais de 30% dos casos de alcoolismo, ocorrendo tipicamente em homens entre 30 e 55 anos que consomem mais de 5 doses diárias de álcool por mais de 10 anos (4).
A abstinência ou diminuição do álcool pode levar a uma melhora da cardiomiopatia ?
Nicolas, J.M e outros (2002), (6) acompanharam por 4 anos indivíduos com cardiomiopatia que consumiam 100 g de álcool/dia por mais de 10 anos. O estudo teve como objetivo verificar se a abstinência ou a diminuição do consumo diário de álcool levaria a uma melhora no quadro da doença.
Após o primeiro ano, todos os pacientes que pararam de beber apresentaram melhora significativa na função do ventrículo esquerdo do coração. O mesmo ocorreu com os pacientes que diminuíram o consumo para 20-60 gramas/dia. Em contraste, houve uma deterioração no ventrículo esquerdo de pacientes que continuaram consumindo mais de 80g álcool/dia. Depois de 4 anos de estudo, tanto os indivíduos que pararam de beber quanto os que continuaram bebendo moderadamente continuaram apresentando melhoras nas funções do ventrículo esquerdo e 10 pacientes que continuaram bebendo mais de 80g/ dia morreram durante o estudo.
Comparação entre coração normal e coração com cardiomiopatia dilatada
Alcohol Health & Research World, Vol. 14, No. 4, 1990.